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Entrevista com Rubens Lopes, presidente da Ferj.


É notável que muitos críticos e torcedores, aparentam certo descontentamento com o campeonato carioca. São diversas razões. Entre elas, podemos citar a inexistente dificuldade em vermos os quatro grandes classificados, onde todos os jogos contra pequenos foram realizados, nos domínios desses clubes, com status de treino. Outra questão crucial para a baixa alegria do torcedor com relação ao torneio, foi vermos os clássicos, que possuem sua historias centenárias recheadas de confrontos decisivos e importantes, serem realizados neste ano de 2008, sem nenhuma importância para classificação. Aquela esperada explosão e a presença do grande público nos estádios, deram lugar a frustração, e a contagem dos dias, para que cheguem logo as semifinais, claro, com os quatro grandes, algo extremamente previsível.

Face a isso, quando vi e ouvi a entrevista de Ruben Lopes, presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, à TV Lance, achei válido, repassá-la para o leitor do blog, para que nós, tiremos nossas próprias conclusões sobre o que pensa, àquele responsável por gerir o futebol carioca.

Essa entrevista aconteceu na sede da Federação, no centro da cidade, e participaram dela: o repórter do diário Lance, Nelson Ayres, e o editor do diário Lance-Rio, Flavio Garcia, que também tem seu blog no Lancenet.

Segue abaixo, a entrevista completa, redigida por mim, com Rubens Lopes:

Importado da TV Lance:

***********************

Nelson A.: O que leva uma pessoa a querer ser presidente da FERJ?

Rubens Lopes: Veja bem, no meu caso específico são contingentes naturais. Eu fui convidado para fazer parte de uma diretoria como vice-presidente e em função do fato que vocês sabem; com o falecimento do doutor Eduardo Viana, eu automaticamente por força estatutária assumi interinamente para concluir o mandato, e depois como candidato natural, fui eleito pela maioria, presidente com 95% dos votos e aqui estou até 2011.

Flavio Garcia: Ser considerado um sucessor do Eduardo Viana incomoda, ou isso te dar orgulho?

Rubens Lopes: Não incomoda, porque sucessor é toda pessoa que vem após, independentemente da sua linha filosófica e do seu critério administrativo. Todo mundo é sucessor de alguém.

F.G.: Mas o senhor há de convir que exista uma sombra do Eduardo Viana que ainda “persegue” o senhor. Acho que por ser uma dinastia.

Rubens L.: Isso é na cabeça de alguns que efetivamente gostam de ver as coisas de outra forma. Não vejo nisso nenhum problema, mas acho que esta ótica que você está colocando, é da cabeça de alguns que querem distorcer a visão natural das coisas.

F.G.: O América está seguindo uma tendência de outros clubes que não são grandes, mas que são tradicionais e que estão caindo pra segunda divisão. Às vezes até para a terceira divisão. O que fazer para esses clubes não morrerem?

R. L.: Veja, o América é um clube centenário, um clube tradicional, um clube que sempre esteve na primeira divisão, e eu não gostaria de ver o América na segunda divisão porque eu sei o que é ver um clube que eu torço nessa situação e sei da dificuldade de retornar. Mas aí nós entramos numa variante que vai por conta dos recursos. Você tem hoje, clubes tradicionais que junto com o presidente, tem “n” compromissos. O clube tem que cuidar da piscina, do quadro social, do basquete, do vôlei, do salão, das festas, do seu patrimônio. Então ele precisa de muitos recursos pra cuidar disso. E ele entra na competição com clubes que praticamente não são clubes, são times de futebol que são subsidiados pelo poder publico. Muitas prefeituras do interior estão subsidiando esses times, que não são clubes. Eu não conheço nenhum sócio do Macaé, do Cardoso Moreira, do Resende, e praticamente são clubes de futebol com apoio da prefeitura, tornando a competição desigual. O América, por exemplo, precisa diluir seus recursos por toda sua enorme estrutura que ele tem pra manter, como as categorias de infantil, juvenil e juniores que ele participa de competições e precisa manter esses times. Já os outros pequenos não possuem essa obrigação. Isso faz uma diferença muito grande e eu acredito ser esse um dos fatores.

N.A.: Agora, essa serie B de 2009, se o América cair, terá além do América, o Bangu, o Olaria, o São Cristóvão, a Portuguesa, o Campo Grande e o Goytacaz, que tem a maior torcida de Campos. São clubes, como você disse. Será uma competição forte. O que a Federação fará para esta edição?

R.L.: Será uma competição forte, até porque tanto em 2006 como em 2007, a segunda divisão foi um campeonato bastante motivado do inicio ao fim. O que a Federação pode garantir a você, é que terá principio, meio, e fim; que terá regras completamente rígida. E você já teve oportunidade de ver que não tem mais virada de mesa, ou quebrar perna de mesa e aquele distúrbio de não ter jogo, ou o clube não jogou a terceira rodada e já está jogando a quinta, ou estamos na oitava e não aconteceu a segunda, então, disciplina, isso eu te garanto que vai efetivamente acontecer. Em termos de colaboração pra esses clubes, a FERJ vai tentar (já estamos até tentando) viabilizar alguma forma de patrocínio, como a TV para dar visibilidade transmitindo um ou outro jogo, mas não temos tido sucesso nessas negociações. Nós também vamos ver se conseguimos minimizar custos facilitando a vida desses clubes.

Na 1ª divisão, nós estamos arcando com os custos dos clubes menores quando jogam entre si, como quadro móvel, transporte, taxas de arbitragem, dos juniores e profissional. Tudo isso é custo da FERJ. Os clubes não pagam. É uma forma de nós ajudarmos esses clubes de menos investimento e vamos ver se podemos fazer a mesma coisa na segunda divisão.

N.A.: Não tem virada de mesa pro América?

R.L.: Não tem como ter virada de mesa pro América. Eu não posso torcer por A ou B, mas se eu torcer pro América, vão imaginar que eu esteja prejudicando alguém. Mas de um modo geral eu gostaria que o América superasse essa dificuldade.

F.G.: O senhor avalia o campeonato carioca como o melhor do Brasil...

R.L.: ...eu avalio, ou melhor, eu digo isso pelos números da audiência. O Pay Per View de 2007, foi 60% maior de que o campeonato de 2006. Veja bem, e é o campeonato que passa pra todos os lugares. Todo mundo quer comprar o campeonato carioca. Ninguém quer ver o campeonato de outros Estados, querem ver Flamengo, Botafogo, Fluminense, Vasco, querem o campeonato do Rio e os números provam isso, em audiência, medido pelo Pay Per View, no publico presente no estádio.

F.G.: Mas como o senhor vê o futebol carioca em relação ao futebol de outros Estados?

R.L.: Eu vejo em ascensão. E é simples, dois dos nossos clubes entraram na Libertadores desse ano: Flamengo e Fluminense. Algum tempo que isso não acontecia. Foi uma evolução. E talvez, isso tenha sido a causa da grande diferença entre os grandes clubes e os menores. Primeiro, os clubes menores, no meu entender, não se prepararam adequadamente pra esse campeonato. Não tenha dúvida. Já os clubes maiores, se prepararam melhor em função das competições importantes que começaram de forma precoce. Antes eles usavam o estadual como laboratório e iam se reforçando pra um campeonato longo e mais forte que era o brasileiro. Em função da Libertadores que eles tinham que começar a jogar, começaram a montar seus elencos com muito mais tempo e muito mais reforçado. E esse upgrade não foi acompanhado pelos demais dando nessa diferença entre os grandes e os pequenos. Mas o futebol do Rio está em franca ascensão. Se você me perguntar: Está satisfeito? Não! Precisa melhorar? Muito! E nós estamos empenhados em que isso seja permanente e sem limites. E quais as metas? Nós temos que ter os clubes grandes em competições internacionais sempre; eles têm que estar melhores que os outros; em campeonatos de expressão nacional, os clubes do Rio têm sempre que estar nas primeiras posições, nós temos que ter clubes na serie B, pelo menos um. E agora vem a serie D, então vai ficar difícil de chegar da D até a B e até a A. Temos que chegar ao dia em que todos os clubes profissionais do Rio, estejam em atividade durante todo o ano. Isso é fonte geradora de emprego, aumenta a probabilidade do surgimento de novos atletas além de termos mais rodagem para os atletas que estão iniciando.

N.A.: A arbitragem, praticamente foi pouco contestada. Só tivemos problemas naquele Flamengo x Botafogo...

R.L.: ...e dentro da opinião dos críticos e analistas de arbitragem, houve um problema disciplinar, talvez, e aí um chororó daqui e outro ali. Quem perde, sempre arruma uma desculpa, e a maneira mais fácil de arrumar uma desculpa, é a arbitragem. É só dizer que foi a arbitragem que seu colega vai concordar e assim arruma logo um coro. Mais eu acho que foi boa. Muito pouco criticada, acho que a arbitragem do Rio está numa evolução considerável. Evoluiu muito num curto espaço de tempo. Na primeira divisão, nossos árbitros só perderam em escala para os de São Paulo, e na 2ª e 3ª divisão, tivemos o maior numero de árbitros escalados. Então você vê que a arbitragem no Rio está predominando em relação as demais em todo país. Temos um arbitro novo Fifa, que é o Marcelo de Lima Henrique, que chegou ao quadro da Fifa por pura competência e mérito. A arbitragem do Rio sofreu um choque de gestão. Hoje é outra gestão, e foi criada a escola de arbitragem da FERJ, que funciona nas dependências da federação, onde os árbitros têm cursos de idiomas, já que essa é uma das exigências da Fifa. Estamos no caminho certo. Vamos ter muitas queixas, reclamações, e com certeza teremos erros ainda ao longo de toda trajetória, porque não há como imaginar que o arbitro não erre. Se com 15 câmeras, as vezes o jornalista fica na duvida, você imagina o arbitro, que num simples piscar de olhos, já não vê um lance que gera uma polêmica.

N.A.: Presidente, deixa eu entrar num outro assunto. Se criou uma polêmica muito grande em torno do caso Leandro Amaral. Chegou-se a cogitar que o presidente teria favorecido o Vasco. Levantaram suspeitas em relação ao presidente da federação. Eu gostaria que o senhor falasse da situação completa do Leandro Amaral.

R.L.: Nada do que foi dito, efetivamente procede. Recapitulando: o Leandro Amaral era jogador do Vasco e por intermédio de uma decisão judicial, ele perdeu o vínculo esportivo com o Vasco da Gama. E tão logo, nós tomamos conhecimento dessa decisão, nós cancelamos o vínculo esportivo dele com o Vasco. Dias depois, o Fluminense deu entrada num contrato do jogador, e como ele não tinha vínculo esportivo com o Vasco, por decisão judicial, um atleta livre, nós registramos o jogador no Fluminense. Passado um período, o Vasco, por ação judicial, promove suas medidas e nós recebemos a comunicação que o Leandro deixava de ter o vinculo com o Fluminense, retornando a ter vinculo com o Vasco. Acontece que na quarta-feira da semana santa, após o encerramento do expediente, chegou a noticia de que teria um oficial de justiça aqui pra entregar um documento, devolvendo o vinculo do atleta e aquelas noticias todas que vocês já sabem.

N.A.: Mas foram dois minutos depois do expediente?

R.L.: Eu não sei quantos minutos foram e eu não tenho vara de condão ou bola de cristal pra adivinhar, que depois do expediente, que se encerra as 18:30 e todos os clubes sabem disso, vai chegar alguém pra fazer determinada coisa, ou deixar de fazer. E mesmo que nós soubéssemos que depois do expediente chegaria alguém com decisão sobre o Leandro Amaral, nós não teríamos cumprido, porque depois do expediente é depois do expediente. Dentro de um horário normal de funcionamento, tudo vai ser feito, porque vai estar dentro de um critério e de uma norma. Porque que fora do expediente normal, eu ia sair da normalidade para beneficiar alguém em prejuízo de terceiros? Isso não tinha a mínima hipótese de acontecer. E eu não via nem a necessidade, nem a urgência, porque no primeiro horário de funcionamento do expediente normal da federação, se receberia qualquer documento, qualquer intimação, mandato ou coisa do gênero, nós cumpriríamos imediatamente. E é o que praticamente foi feito. Na segunda-feira que foi o primeiro dia útil após o ocorrido, a FERJ abriu seu expediente as 13:00 e as 15:30 recebemos um mandato de intimação, impondo que o Leandro Amaral perdesse o vinculo com o Vasco e imediatamente nós fizemos isso. Foi cumprido na mesma hora. O vinculo desse atleta com o Vasco foi suspenso. E só não foi colocado de imediato no clube A ou clube B, porque o mandato não dizia o clube a ser inscrito que não fosse o Vasco. Clube que não fosse o Vasco, poderia ser o Olaria, o Bangu, ou o próprio Fluminense, o Botafogo ou qualquer outro. Agora quem era este outro? A Ferj tomou a seguinte atitude: peticionou ao desembargador, comunicando que cumpriu de imediato parcialmente a sua decisão, tirando o vinculo do atleta com o Vasco e aguardava a decisão para qual clube ele deveria ser inscrito e também comunicamos ao atleta, para que ele apresentasse um contrato e um pedido de registro, com o clube de sua vontade conforme o magistrado determinou, ou seja, que ele fosse registrado no clube de sua vontade ou outro clube qualquer. Não tivemos a resposta nem do magistrado nem do atleta e dois dias depois, recebemos uma ooooutra intimação, determinando que o vínculo com o Vasco fosse restituído. Então, nós só cumprimos ordens. Não cabe a FERJ entrar no mérito de Vasco ou Fluminense, embora se nós pudéssemos isso nunca teria acontecido. Acho que teriam chegado a um diálogo, a um consenso e nunca ao extremo desse embate judicial. Acontece que a FERJ se mantém neutra, dentro das suas regras e normas, e cumpre rigorosamente aquilo que lhe é imposto por essas regras e normas.

N.A.: E a historia de Angra?

R.L.: Eu acho que até vale a pena vocês perguntarem sobre a historia de Angra pro Renato. Algum maledicente contou essa historia pro Renato e ele inadvertidamente, soltou essa perola por algum lugar. Acontece que eu não fui pra Angra, embora, caso eu tivesse sido convidado e tivesse disponibilidade de horário, eu teria ido sem nenhuma dificuldade, mas não fui. Estava viajando à trabalho.
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*Para conferir essa entrevista pela TV lance, clique aqui.
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5 comentários:

Diego Louzada disse...

Ele faz uma bela propaganda do seu mandato, falando que hoje no Rio temos 2 times n Libertadores e tal. Não tá de todo errado, mas aind afalta muito a melhorar.
Sobre o caso Leandro Amaral, sou meio suspeito de comentar, já que meu clube é um dos envolvidos. Falram muito desse lance dos 2 minutos, mas se ele tivesse recebido o documento após o fim do expediente, teria sido incorreto com o Vasco.
Abraço, Wilson!

Anônimo disse...

Conheço o pessoal da Ferj e posso garantir que eles se esforçam para fazer um bom campeonato carioca e para o ano que vem com certeza teremos melhoras.

vlw abs
cesar

snoopy em p/b disse...

o carioca caiu muito do ano passado pra cá.
se ele se gaba da boa adesão ao pay-per-view, se esqueceu que o público fugiu dos estádios....
estamos em abril e agora que o campeonato esquenta de verdade.
está bom? sei...

abraço, wh!!!

Leo Fernandes disse...

Fala, Wilson
Foi uma boa entrevista e o próprio Rubens Lopes assume q esses times do interior têm ajuda de suas prefeituras.
Agora, em 2009, a Série B do Rio realmente ficará mais forte, mas, mesmo assim, os clubes chamados de "escritório" ou de "prefeituras" é que conseguirão o acesso.
Valeu!!!

Anônimo disse...

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