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Bono no divã em público.


Por Daniel Junior

Quando um artista do porte de Bono Vox vem a público fazer uma análise do seu trabalho nos últimos 20 anos, temos que parar e observar um modelo nada comum no mundo da música e em específico, no mundo do rock.

Há quem diga que tudo que Bono diz tem um propósito narcisista, mas este tipo de 'melancia na cabeça' merece no meu entendimento aplausos e reflexões.

Para entender, leia esta matéria publicada no site Omelete.

Vivemos, mais que intensamente, a era na qual, colocamos no chinelo, o início 'imperial' do etnocentrismo/antropocentrismo, quando o homem se desiludiu com o deus que criara, com as regras desse deus e o resultado da obediência a estas regras. Desde então a batalha travada entre religiosos e não religiosos rendeu sangue, discussão e muitas dúvidas.

A comparação se dá em um momento em que os recursos tecnológicos dão a possibilidade que o homem "estique" seus membros naturais transformando-se numa espécie de super-homem de si mesmo. A busca pela informação rápida, rasteira e superficial é o mote diário de milhões de pessoas (especialmente jovens) que assumiram o papel de independentes desde já, não só pela fase que vivem (o que é bastante natural desde que o homem passou a estudar suas próprias eras) mas pela arrogância tangente do pensamento contemporâneo.

A humildade tornou-se um artefato raro e caro, na qual, seu principal alvo (o homem) menosprezou seus atributos e aniquilou qualquer mínima chance que alguns princípios éticos, uma vez valorizados pelo ser humano, sejam novamente retomados e alvos de busca. Ninguém hoje em dia deseja menos. A proposta do consumo em um país que atingiu níveis semelhantes aos países de primeiro mundo revelou uma geração de compradores emergentes e urgentes de suas superficialidades.

Qual é a relação desse resumo filosófico com a declaração de Bono a respeito de sua própria obra?

Vir a público e expor suas incapacidades, defeitos, erros e desilusões é nadar contra corrente de construção de deuses que funcionam por estação. Ou como diriam os Titãs: "A Melhor Banda dos Últimos Tempos da Última Semana". A tolice, o boçal, o esdrúxulo, o ruim tomaram pra si adjetivos mais gentis e se transformaram em possibilidades. Não existe o tolo, o ruim, o vazio, o desnecessário. Você que não se encaixa nestes parâmetros, dirão alguns.

Logo, a confissão de uma insegurança partindo de um ícone da música pop, pelo menos há 25 anos, indica, que, a convicção de certos valores, ainda são capazes de colocar 'em seu devido lugar' uma turma que acha que encontrou a solução do rock, do pop, do emo, do black, do death... A overdose de informação não transformou essa geração na melhor geração ouvinte, apenas outorgou arrogância, desprezo, falta de ética, descompromisso e outras tantas coisas que há algum tempo se tornaram integrantes de debate na sociedade, embora fora dos cidadãos.

Se o vocalista de uma das melhores bandas do mundo vem a público questionar a qualidade daquilo que, no momento, julgou ser o melhor, podemos colocar cartazes e fazer outdoors para uma molecada que não entende (ou não quer entender) que uma avaliação de si mesmo e do seu próprio desdobramento artístico é a prova de que nosso olhar pode ser sim mais ameno, menos contundente e muito mais modesto e honestamente democrático, uma vez que, os fóruns, comunidades, redes sociais e tudo que é inventado para aperfeiçoar/piorar essa 'porcaria' de interatividade apenas em um espelho de gente muito próxima de bestas feras e muito longe de se parecer com gente.

Em suma: você não precisa provar nada para ninguém se não convencer-se que existem dezenas de coisas que podem ser mudadas no seu pensamento, a começar pelo que você pensa acerca de si mesmo. As críticas vorazes contra o que você não gosta não diminuem nem o pouco valor (ou o muito valor) do que você não gosta. Não recua a quantidade de fãs de coisas que você não gosta e nem alivia sua própria dor de conviver com coisas que você não gosta. Um reinado da babaquice, dos catedráticos em wikipédia e dos formandos em gadgets, não por quantidade, mas por ausência de qualidade, não configura, por serem maioria, qualquer tipo de verdade sobre o que dizem, a não ser o que dizem de si mesmos quando opinam sem qualquer tipo de critério se não o vazio reino da agressão e dos números, aqui tolos, para dizerem, por A+B, que o que dizem é verdade.

Bono desceu do seu pedestal. Que tal fazer o mesmo.


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