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O dia que entrevistei o Mestre Luiz Mendes


Por Wilson Hebert

No dia que eu atendi o telefonema do amigo André Rocha me convidando para entrevistar o Mestre Luiz Mendes, logo após a rápida conversa, parei e pensei que aquele seria um momento único na minha vida. Não seria apenas uma entrevista. Seria uma aula. Uma aula profissional e humana.

Chegando ao seu apartamento, me deparando com aquele senhor de imagem frágil, porém de história brava e inigualável, percebi o quão realizado eu já estava. Ele nem precisou responder a primeira pergunta para que eu já sentisse uma felicidade tremenda.

Apenas em 2006 eu pude ter internet de banda larga na minha residência (antes era discada e eu sequer chegava à mesa do computador) e apenas no ano passado pude, com meu próprio salário, assumir a despesa da TV a cabo, ampliando o pacote para ter todos os canais de esporte que eu desejava ter. Por conta disso, antes de adquirir mais acessos aos meios de comunicação, eu sempre ouvi bastante rádio. Eu tive um de pilha, vermelho e preto, que foi meu companheiro por muito tempo. Da Copa de 94 à de 2002, me acompanhando inclusive na escola.

Durante minha infância, ainda morando no Rio de Janeiro, eu escutava bastante a Rádio Globo. Logicamente, como todo pirralho, não entendia tão bem as entranhas do futebol. Mas já tinha o entendimento o bastante para me impressionar com a capacidade de memorização do comentarista Luiz Mendes. Eu o ouvia sem saber que era gaúcho, que havia sido o único brasileiro a narrar a final da Copa de 50. Nem seu nome eu sabia direito. Mas sabia que ele era “o cara que lembrava de tudo”. Só fui tomar conhecimento, de fato, de informações sobre a pessoa Luiz Mendes lá pro ano 2000, quando voltei ao Rio de Janeiro vindo de Brasília (no período que morei na capital federal, Mendes trabalhou na Rádio Tupi, que na época, não pegava no DF).

Com o passar dos anos, conforme a minha ideia de estudar jornalismo ficava mais madura, naturalmente eu busquei alguns personagens da profissão para me espelhar, para observar seus pontos positivos e levar comigo naquilo que ainda não passava de uma vontade.

Quando ingressei na faculdade, em 2007, já tinha alguns nomes que pra mim formavam uma seleção do que de melhor eu via no jornalismo esportivo. Entre alguns grandes profissionais, vários deles do rádio, que sempre foi uma paixão da minha parte, havia, claro, o da "palavra fácil". Foi o comentarista que marcou a minha infância e a minha adolescência. Foi o comentarista que mais me impressionou.

E em 2009 tive a honra e o privilégio de, ao lado do amigo da faculdade André Rocha, entrevistar um dos nomes que eu tinha como espelho para a profissão. Ali eu pude entender porque ele era tão elogiado pelos companheiros de Rádio Globo. Uma imensa capacidade de utilizar um palavreado simples e ao mesmo tempo firme. Ele não titubeou para responder nenhuma pergunta e não nos deixou dúvida em nenhuma resposta. Luiz Mendes foi uma das pessoas mais sábias (quiçá a mais sábia de todas) que eu tive o prazer de escutar pessoalmente.

O motivo da nossa visita à sua residência foi o livro “As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos”, escrito por Mauro Beting em parceria com André Rocha. E o nosso querido “Tchê” nos respondeu sobre escalações, sobre táticas, sobre acontecimentos nos bastidores de Copa, sobre absolutamente tudo que queríamos saber, dentro e fora deste contexto de seleções estrangeiras. E em dois assuntos, ele me chamou atenção de forma memorável. Perguntado por André, ele respondeu sobre a Hungria de 1954 e a Inglaterra de 1966 como se fossem times formados semanas antes daquela entrevista. Ele lembrava de tudo.

Com o Luiz Mendes eu aprendi que em qualquer profissão existe uma hierarquia de atributos. Existem profissionais que alcançam tamanha excelência em determinadas virtudes, que fica praticamente impossível outro chegar a seu patamar. E eu tenho certeza que dificilmente verei outro jornalista esportivo dominando tão bem sua memória, aliada a uma retórica invejável, galgada de serenidade e firmeza, que sempre brindou os ouvintes das estações de rádio pelas quais trabalhou.

Mesmo se eu ficasse calado durante aquela entrevista, me limitando a cumprimentar o Mendes na chegada e me despedindo na saída, eu já teria levado dali uma grandiosa satisfação por ter assistido as mais puras, bondosas e eficientes lições do que é uma verdadeira comunicação social.

Para ler a íntegra da entrevista, clique aqui.

Wilson Hebert
@wilson_hebert

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