Crônicas de Nova Iorque - Parte I
Por Daniel Junior
É um grande desafio tornar um assunto musical interessante. Por um motivo muito simples: todo mundo fala sobre música. A maioria das pessoas dão seu pitaco (profissional ou não) sobre qualquer assunto e principalmente sobre música, que na minha opinião é um assunto íntimo, quase proibido de ser falado, de tão controverso; é fácil cair na armadilha dos argumentos pueris para fazer valer um mero ponto de vista.
Quando tive a oportunidade de estar em Nova Iorque nos últimos 10 dias não esperava encontrar tantas diferenças. Ficaria fácil chamar de “culturais” tais idiossincrasias, por assim dizer. Acho que vai além disso. Se você não quer ler um texto diferente aqui do Futebol e Variedades, nem precisa prosseguir, fique aqui.
Óbvio que eu fui descansar, sabendo que as chances de tornar este passeio um momento interessante para refletir e conhecer outros pensamentos. Deu certo. É possível, através de uma presença mais lúdica rever sua opinião sobre o ser humano e o que ele faz e porque faz.
Há um bom tempo já vinha concluindo que temos um sério problema social. Não vou me atrever a fazer um discurso político; não por achar que seria chato mas porque seria óbvio e nada acrescentaria de ‘verdade’ ao que você pensa ser ‘verdade’. Por trás de atitudes muito simples a gente enxerga e sentencia, logo de cara, nossas manias comportamentais, esses pequenos vícios que, segundo nossa ‘consciência’, só causam prejuízo àqueles que de tal maneira usufruem. Ou seja, “o cheiro é meu, apenas a mim prejudica”.
Andando pelas ruas de Manhatam vi um povo envolvido musicalmente até o talo (ê finalmente ele falou de música!) sem que o cume desta amostra fosse explícito através de carros com bagageiros abertos nas calçadas, mesmo que eles tenham verdadeiras “carretas” transitando em felicidade. Eles não largam o cellphone ‘um segundo’. Tudo é falado, tudo é lido e sentido através da digitação miniaturizada do touch ou das pequenas teclas do blackberry. Fones nada discretos, de todas as cores, coroam as frontes das raças mais variadas do Big Apple.
Por experiência e tentativa ouvi uma estação de rádio de lá e não vi muita diferença do que se escuta nas rádios POP daqui. O de sempre. Porém lá soa legítimo. O povo brasileiro que mal conhece seu idioma presta reverência a música de uma linguagem que não conhece. Apenas pelo clima e balanço. Ou seja, é cativado por parte de uma canção que não conhece a inteireza. É como alguém que come um belo hamburger de carne de picanha e tira a carne para sorver o pão, o miolo. Mesmo assim, sob o risco de ser simplista, vou deixar para debaixo do tapete este meu argumento. É possível sim ser conquistado por uma canção sem que você saiba uma palavra do que está sendo cantado, mas não ficaria feliz de saber que a música que mais gosto maltrata ou critica meu próprio jeito de pensar. Enfim…
Lendas também se desfizeram…
Esqueçam o McDonalds como um dos símbolos da soberania americana. Até porque a frase dita há pouco é como parte dos jogos dos 7 erros. Não existe mais soberania americana. Não como conhecíamos. E também a loja do Ronald não é mais o ‘must’ do fast food mundial. Muito pelo contrário. Ao menos no Downtown (zona residencial do centro de Manhatam), quem frequentava a lanchonete era o pedinte que arrecadou seus cents e dólares o dia inteiro e foi para lá ao final da noite tirar a barriga da miséria. Mesmo em um clima de fim de festa permanente, eu estive por lá para conferir, bem de pertinho, o que se passara com um dos maiores impérios da cultura de consumo da década de 80/90. Atendimento bom, mas não havia o tal do “diferencial”. Ficou pelo caminho. Afinal, outras melhores surgiram.
Voltando à questão musical: nem uma linha do Rock In Rio mereceu destaque no cenário americano. É difícil fazer um diagnóstico preciso sobre este fato, mas talvez a questão aqui seja do atual momento que o rock vive na terra do Tio Sam. Mesmo sendo ressuscitado por momentos interessantes de ícones do metal (Metallica, Anthrax, Slayer, Megadeth, Stone Sour, Slipknot…) essa ressurreição talvez tenha vindo um pouquinho tarde, porque afinal de contas, quem não é visto não é lembrado. Engraçado que quando penso em rock, especialmente o americano, faço sempre menção do hard rock e ele, o hard, deu ‘molinho’ nos últimos anos. Seus principais representantes caíram num ostracismo criativo e viram os outros gêneros musicais caírem em um gosto de uma nova geração. Azar o nosso.
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