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Papo Firme - Parte II

A segunda parte da entrevista com Washington Rodrigues é sobre o Flamengo, paixão confessa do jornalista, e que hoje completa 113 anos de existência. Confira o que o “Apolinho” tem a dizer sobre o seu time de coração.


O treinador


Eu sou Flamengo pra cacete! Eu fui e iria quantas vezes fossem necessárias. Se no próximo jogo me chamarem para ser o goleiro porque não tem ninguém eu vou tomar duzentos gols, mas estarei lá. O Flamengo não me convida, me convoca!


Quando eu estava lá dentro, a minha vontade era fazer a alegria daqueles que estavam no meu lugar na arquibancada. Para você ter idéia, naquela decisão da Supercopa (vitória do Fla sobre o Independiente por 1 a 0, insuficiente para dar o título ao clube, pela derrota na Argentina por 2 a 0) eu esqueci de pegar a minha roupa. Quando eu desci do ônibus, eu fiquei na esquina em frente à sede da Gávea esperando a minha mulher, que demorou porque os amigos se reuniram lá em casa para assistir pela TV. Então eu estava no meio da rua, às duas da manhã, puto dentro da roupa, pensando como é que eu tinha perdido aquele título. E foi engraçado porque passou o caminhão de lixo e os garis ficaram me consolando, um bebum dirigindo um Fusca ficou insistindo para eu beber um chopp quente a beça e eu tive que tomar um gole.


No jogo, eu estava tão alucinado que no final, com nosso time todo no ataque, com o Aloísio (ex-São Paulo) na vaga do zagueiro Cláudio, o Nélio na lateral-direita e praticamente só o Ronaldão atrás, em um lançamento para um atacante do Independiente que corria pra cacete, a bola veio na minha direção na área técnica e eu, em questão de segundos, pensei: “Ele não vai pegar essa não! Se ele passar eu vou dar um carrinho e ele não passa!” (risos) Mas aí a bola saiu pela lateral e ficou tudo bem. Aos 46, com o título já perdido, eu entrei em campo e o Arthur Bernardes e o PC Gusmão, meus auxiliares, perguntaram o que eu ia fazer, e eu respondi: “Vou dar uma porrada no juiz!” Eles: “Mas o que ele fez?” Eu: “Nada, mas eu tenho que dar uma porrada em alguém!”


Você fica louco porque não é a sua profissão e você se sente responsável por toda aquela gente. Eu queria dar aquela alegria a eles. Se fosse campeão eu me jogava na geral do Maracanã e não voltaria pra casa naquela noite. Na Argentina, quando eu venci na estréia (Vélez Sarsfield 2x3 Flamengo), eu não retornei ao hotel. Fui pra churrascaria, bebi vinho, fiz uma festa tremenda!

O Flamengo foi para a final com o Romário sentindo uma lesão na coxa. Mas os argentinos tinham medo, pânico, pavor de ter que enfrentá-lo. Com ele em campo, o adversário perdia três para marcá-lo. Era uma questão matemática. Então pedi a ele para entrar no primeiro jogo lá na Argentina e ficar paradinho na frente. E aí ele foi criticado, sem que ninguém de fora soubesse que ele estava fazendo um sacrifício pelo time. E eu não podia abrir a boca, pois o Independiente ficaria sabendo. Eu tive que “entubar” e segurar as críticas.


Mesmo com toda aquela crise, o time foi à decisão da Supercopa com uma campanha excepcional: Em 24 pontos disputados nós vencemos 21. Acabamos perdendo no saldo de gols para o Independiente, que não chegou a dezoito.


“Pior ataque do mundo”


O ataque com Edmundo, Romário e Sávio não deu certo porque eles jogaram poucas partidas juntos. O Edmundo primeiro quebrou o pé em um lance com o Gamarra contra o Internacional, depois bateu com o carro. E o Romário jogou lesionado e teve vários problemas. No primeiro treino que eu comandei, o Baixinho caiu duro no gramado e tiveram que levá-lo no Hospital dos Servidores do Estado.


Romário


Faz muita falta, dentro e fora de campo. Ele foi o último grande craque, o último extra-série.

Ele é um ídolo nacional. Ele estava no Vasco e você via torcedores do Flamengo no Maracanã com a camisa 11. O Romário várias vezes demonstrou a vontade de encerrar a carreira no Fla. Eu até fiz um jantar lá em casa, reaproximei o Baixinho e o Edmundo Santos Silva, mas depois fiquei sabendo que o Gilmar Rinaldi (ex-diretor de futebol do clube) e outras pessoas desaconselharam a sua contratação. Apesar de não ser rubro-negro, ele sempre manifestou a sua admiração pela torcida do Flamengo. Tanto que ele nunca a provocou quando estava do outro lado.


O “Oba-Oba”


A empolgação da torcida pode tirar o foco dos jogadores, mas não deve. A massa rubro-negra é um trunfo que às vezes é mal aproveitado. A minha grande descoberta quando estive lá dentro é que a maioria dos que chegam lá não conhecem o clube. Então eu levei todos eles para a minha casa, fiz um lanche e exibi um vídeo da TV Cultura que contava a história do Flamengo e mostrei a eles o que representa o time para o torcedor. Pedi a eles que sempre que fossem entrar em campo, que ficassem dez segundos olhando para as arquibancadas e pensassem que, no meio daquela multidão, muitas pessoas tinham feito um sacrifício enorme para estarem ali. Expliquei também que eles não querem bicicleta nem gol de placa. Eles querem ver raça, fibra, coragem. São trinta e cinco milhões de apaixonados que eles, mesmo que não sejam flamenguistas, estão representando.


Em 1995, o Kléber Leite vendia os jogos do clube para as Prefeituras de várias cidades do país. A torcida do Flamengo é tão impressionante que, mesmo com o time mal das pernas e utilizando os reservas na parte final do Brasileiro, se tivesse pelo menos um dos três craques do ataque, a chegada da delegação era uma loucura! Por causa dessa bagunça, queriam que o ônibus entrasse na pista e pegasse todo mundo assim que descesse do avião, mas eu não deixava. Pô, todo mundo esperando a gente desde cedo e nós fugindo como se eles fossem nossos inimigos? A polícia que cuide da segurança! Mas às vezes era complicado. Uma torcedora em uma cidade nordestina que agora não lembro conseguiu ultrapassar o cordão de isolamento, o policial e a segurança e deu uma gravata no Edmundo querendo abraçá-lo. Para se livrar, ele deu uma dentada no braço dela. (risos)


O Angelim, que é boa pessoa e um bom zagueiro, disse que a torcida atrapalha com a empolgação (declaração dada logo após o empate em 2 a 2 com a Portuguesa no Maracanã) porque ele não conhece o clube. A torcida nunca atrapalha, só ajuda. Mas ela quer ganhar. No jogo com o Atlético-MG (derrota por 3 a 0), a torcida foi até generosa, pois era para entrar em campo e fazer os caras correrem. A torcida é assim e não vai ser um Ronaldo Angelim que vai mudar isso. Ele tem é que contar até dez antes de falar alguma coisa da torcida do Flamengo.


FlaTV


O Flamengo poderia aproveitar melhor a FlaTV, promovendo uma interação maior dos torcedores do clube no mundo inteiro. Onde você for neste planeta tem um torcedor do Flamengo.


15 de Novembro


O aniversário do Flamengo que mais me marcou negativamente foi o de 72, um dia depois dos 6 a 0 do Botafogo.


Em 1995, a vitória sobre o Cruzeiro na Supercopa nessa data foi superimportante, porque o Cruzeiro tinha um timaço, era comandado pelo Enio Andrade e sempre foi difícil vencer no Mineirão. Vencemos com um gol do Ronaldão depois de uma cobrança de escanteio. Ficou marcado para mim também porque eu ganhei da Rádio Itatiaia o prêmio de melhor em campo. Eu tenho até hoje o par de tênis que fazia parte do kit que recebi, mas que era tamanho 38. Como não podia usar, virou troféu. (risos).


Esse ano cai num sábado e eu não tenho nada programado. E eu nem sei o que o Flamengo está planejando. Antigamente tinha o Reco-Reco, o Buck, técnico de remo, gostava de organizar as comemorações com muito carinho. Depois o Flamengo foi largando algumas de suas tradições. Quando estive lá, eu ajudei a recuperar a mística do São Judas Tadeu levando os jogadores na Igreja. Essas coisas têm que ser preservadas.


Eu fazia muita festa. Botava bandeira, tocava o hino, os vizinhos protestavam...(risos) Mas hoje não faço mais nada.

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E parabens ao Clube de Regatas Flamengo por seus 113 anos de história!!!

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2 comentários:

Impasse Livre disse...

Show de bola, ele já participou com a gente no giro maldita! abraços wílson, bela entrevista no papo firme...parabéns!

Zêro Blue disse...

O Homi sabe muito de futebol, com a experiência que acumulou ao longo desse anos todos temos que respeitá-lo.

Abraços e...

Saudações Celestes

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