Por Daniel Junior
Quando chegamos aos anos 90 os criticos musicais sempre impuseram à década anterior um peso de inutilidade. Que tudo que havia surgido, inclusive na cultura pop, era fugaz, efêmero e descartável. Aliás, a palavra POP ganhou a pior conotação que poderia ter. Essa significado de música feita estritamente para resultados comerciais. Sem apuro, sem cuidado, mais uma vez, descartável.
Musicalmente, os anos 90 seriam até mais dispensáveis. A sonoridade do que foi produzido em boa parte dos estilos foi quase de passagem. Anos depois, ninguém faria aquele som baseado em teclados e muito violão. Mesmo as bandas que utilizavam outros instrumentos teriam seus momentos acústicos durante a malfadada época. No finalzinho dos 90′ viria a febre dos acústicos e a história quase todo mundo sabe como se desenvolve.
Passados mais de 30 anos da década descartável (80) e mais de 20 da dispensável década (90), a informação diluída em qualquer esquina virtual foi incapaz de apagar os rastros deixados por estas gerações. Pelo contrário. Passaram a ser referência de comportamento, popularidade (agora no bom sentido), bom gosto e cultura.
Artistas e bandas passaram a comemorarem aniversários dos aniversários. Discos foram relançados, turnês foram re-iniciadas para celebrarem décadas consideradas perdidas por aqueles que escreviam sobre música e cultura pop. Aquilo que era estranho e até cafona, ganha um novo adjetivo (retrô) para especificar a celebração daquilo que um dia era no mínimo ruim.
Um exemplo muito singular se trata do anos de 1990/1991/1992. Neste triênio bandas de todo mundo lançaram petardos inigualáveis em suas discografias. Ultrapassaram os limites estilísticos e atravessaram a porta do preconceito, ganhando prêmios de notoriedade mundial, tocando onde ninguém jamais tinha ido e consolidando uma carreira construída nos nichos proselitistas de uma sociedade quase construída como gueto.
Paradoxalmente, Guns N Roses era o que havia de mais popular no cenário rock. O seu hard ‘batia’ perfeitamente com o gosto eleito por uma maioria: loiros, camisas rasgadas, baladas encandescentes, escândalos e tumultos em hotéis por todo mundo, atitude e por fim, boa música. Conquistaram o mundo com canções assobiáveis; compuseram clássicos e escreveram seu nome na história. Em seu calcanhar Bon Jovi, Aerosmith, Skid Row, Scorpions, pra citar alguns, aproveitavam o bom momento do rock, agora com um sotaque mais aproximado do chamado gosto popular.
Metallica, banda cultuada por todos os headbangers do planeta, havia lançado discos incontestavelmente classudos. Kill Em All, Ride The Lightning e principalmente, Master of Puppets, mostraram aos mais conservadores admiradores de música que era possível fazer um som brutal e pesado com técnica, velocidade, sensibilidade e beleza, sem abrir mão da atitude, dos trajes e de espetáculos que beiravam o estado catártico.
Em 1991, o Metallica lança seu disco + popular, que lhe renderia hits, clips famosos na Mtv. O “pretinho” também conhecido como Black Album iria catapultar a banda americana a um status jamais alcançado por uma banda oriunda do trash. Mesmo quem não queria teria que assistir; a banda mais famosa da época (juntamente com Guns N Roses), agora entoava a melancólica e lírica Nothing Else Matters.
Estes são apenas dois bons exemplos de bandas que explodiram para audiência mundial e que talvez jamais vejam um sucesso semelhante ao que alcançaram na época.
Se podemos classificar o início do novo século, sobretudo ao que diz respeito ao status do rock em todas (ou principais) vertentes, podemos dizer, sob média reflexão, que o rock acabou diluído em suas grandes e fortes influências. Existem dezenas de bandas que ainda possuem sua receita de sobrevivência da qual não abrem mão (e parece que nem seus fãs) como AC/DC, Kiss e Iron Maiden e aquelas que passaram por grandes transformações no seu som, caso mesmo do Metallica, Green Day e Deep Purple (para citar uma banda mais antiga), mas the next generation optou ser tudo e nada ao mesmo tempo. Se é fácil rotular várias bandas como pertencentes ao movimento emo, como batizar bandas como Muse, Beady Eye, Paramore, TV on the Radio?
Longe de pensar que o rótulo é mesmo necessário para apreciação de música. Do ponto de vista artístico isso sempre foi ignorado e massacrado quando dado voz para banda e artistas, mas, é justamente o conceito de som, amplo por assim dizer, que conquista milhares e milhares de fãs sem que se crie um nicho particular, um público de uma só camisa, apenas um jeito de gostar de música.
Por isso, não me espanta ver uma modelo (em seu programa na Mtv) que, aparentemente nunca ouviu uma canção do Geddy Lee, dizer que gosta de Rush, porque nestes últimos tempos, o sentido de gostar foi se alterando a medida que o som foi ficando cada dia mais misturado e menos identificável do ponto de vista de estilo. O playlist de qualquer adolescente pode caber desde os agudos de Amy Lee (Evanescence) até a voz andrógina de Maria Gadú. A superficialidade da relação entre artista e admirador(a), se tornou tão poderorosa quanto o fanatismo daqueles que sabem tudo sobre seu artista preferido inclusive o que não é relevante, musicalmente falando.
Em suma, aqueles que um dia disseram que os anos 80 era fúteis, vazios de boas expectativas à respeito do que aquelas bandas poderiam produzir e, os anos 90 conhecidos como aqueles em que a ‘música ruim’ foi concebida (mesmo por alguns medalhões), terão que repensar suas teses sobre o que realmente faz diferença na história e na relevância de arte: se é o conservadorismo e a manutenção de um fórmula fechada de sucesso, que não tem compromisso com maiores intenções (senão as mercadológicas) ou se são os artistas que se re-inventam e fazem das suas carreiras gangorras nas quais o sucesso é sempre mais difícil de ser alcançado.
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