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Acidente no Japão - FV entrevista estudante de Geologia



Por Wilson Hebert

11 de março. Mais uma data para ficar guardada nos registros de tragédia que temos conhecimento no decorrer da história da humanidade. Nesse dia, quando era tarde no Japão e madrugada no Brasil, um forte tremor foi sentido na costa do Pacífico, com bastante intensidade nas cidades de Hachinoe e Miyagi. Autoridades da capital Tóquio também apresentaram informações de tremores em alguns edifícios da cidade. Segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS), esse foi o sétimo pior da história, culminando com milhares de morte. Nos dados oficiais, esse número só passou de mil após o último domingo.

Na sequência, o litoral japonês, sobretudo a localidade que já havia sofrido com o terremoto, viu as águas do Pacífico invadir ruas, estradas, casas e prédios num forte volume de água em decorrência de uma tsunami. Com esses ocorridos num intervalo tão pequeno de tempo, mas com um poder imenso de devastação, é normal que surjam dúvidas sobre suas causas e como se pode ter noção do grau de estrago que essas forças naturais podem acarretar. É por isso que o Futebol & Variedades entrevistou Henrique Chaves Joncew.

Henrique cursa o quinto período de Geologia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e dá aulas de Geologia Geral em um curso técnico de Vespasiano, na grande BH. Ele é outro entrevistado do FV que também pertence à comunidade do Orkut Doentes por Futebol. Confira abaixo o bate-papo que aconteceu na noite do último domingo, após os noticiários darem conta de todos os grandes acontecimentos do final de semana no Japão.

FV: Qual a principal causa ou as principais causas para um terremoto?

Henrique Chaves: A principal causa de terremotos é a movimentação relativa entre duas placas tectônicas. Na região onde se encontra o Japão, existe um limite de duas placas que tendem a se mover uma contra a outra. O contato entre as placas e sua tendência de movimento gera um acúmulo de energia, que chega a deformar as estruturas ao redor, até que se chegue a um limite de resistência. Quando isso ocorre, a energia é liberada e ocorre o terremoto, e as placas se movem uma em relação à outra


FV: No caso desse terremoto de 11 de março, um alerta foi enviado para as cidades de Hachinoe e Miyagi poucos minutos antes do acidente natural. Seria possível que as autoridades tivessem como saber sobre o movimento dessas placas com um pouco mais de antecedência?

Henrique Chaves: Hoje em dia estão engatinhando os métodos para a tentativa de prever um terremoto. De fato, existem alguns sinais anteriores a um abalo sísmico maior. Mas não é possível ainda emitir um alerta certo a respeito da ocorrência de um terremoto, ainda mais de um de magnitude 8,9 na escala Richter

FV: E como se pode definir a magnitude da escala Richter?

Henrique Chaves: O funcionamento de um sismógrafo, de forma simplificada, é como se fosse colocado um lápis fixo tocando levemente um rolo de papel que gira. Assim, fica registrada uma linha reta sobre o papel. Quando ocorre algum tremor, a base (rolo de papel) oscila, e o 'desenho' registrado não mostra mais uma reta, mas sim uma oscilação. Essa oscilação tem uma amplitude, isto é, um desvio em relação à reta.

O logaritmo de base 10 dessa oscilação é a magnitude do terremoto na escala Richter. O que significa que um terremoto de magnitude um é 10 vezes mais fraco que um de magnitude dois, que é 10 vezes mais fraco que um de magnitude três, e assim por diante.


FV: Quase imediatamente após o terremoto, aconteceu uma tsunami na costa do Pacíficio atingindo em cheio o Japão. Quais ou qual seria a causa de uma tsunami? E essa tsunami teve alguma relação com o terremoto acontecido anteriormente?

Henrique Chaves: Tsunamis são geradas pelo deslocamento de grandes volumes de água. Esse deslocamento pode ser causado por desmoronamentos de grandes volumes de terra, por movimentos tectônicos no fundo do mar (uma placa se deslocando sobre a outra) ou pelo impacto de meteoros no oceano. Neste episódio no Japão, ocorreu o segundo caso. O terremoto, gerado pelo movimento de uma placa sobre a outra, deslocou verticalmente a água do Pacífico acima.

FV: Inevitavelmente, com esse acontecimento no Japão, toda a imprensa da América Latina vem trazendo à tona novamente uma catástrofe similar que aconteceu no Chile em 1960 e no ano passado, inclusive, noticiando que o nosso país vizinho também emitiu alguns alertas nos últimos dias. Como pode um país tão próximo do nosso ter não apenas o perigo, como o histórico de catástrofes como essa, e o Brasil não?


Henrique Chaves: Sobre terremotos - O Chile está localizado na borda oeste da placa Sul-Americana. O limite dessa placa é com a Placa de Nazca. O movimento entre as placas é convergente (em sentidos opostos). Desta forma, o caso é o mesmo do Japão. Porém, como uma placa se move sob a outra (subducta), no caso, a de Nazca, ainda ocorrem terremotos mais para o interior da América do Sul. Ocorre atividade sísmica na Amazônia, por exemplo, porém, de mais leve intensidade, como efeito desse processo. Entretanto, o monitoramento é escasso, e, como dito, os tremores são leves.

O Brasil encontra-se aproximadamente no centro da Placa Sul-Americana, longe de seus limites. Logo, não sofre com os tremores típicos dessas regiões. Todavia, terremotos também podem ser causados por outro tipo de processo. Existem lugares onde se depositam fragmentos de rochas (sedimentos) transportados pelo vento, pelos rios, pelas chuvas, etc. São as bacias sedimentares.

Com o passar dos anos, esses sedimentos se acumulam e, por vezes, ocorre deslocamento (acomodação) dos sedimentos para se ajustar à pressão exercida sobre ele. Essa acomodação gera tremores. Existem registros de terremotos no Brasil, e recentemente, na região de Januária, Minas Gerais, um tremor derrubou algumas construções. Mas esses tremores "intraplacas", como são chamados, representam uma parcela pequena da atividade sísmica do planeta.

Sobre tsunamis: pelo mesmo motivo do Japão, explicado anteriormente, o Chile está sujeito a tsunamis. O limite leste da placa Sul-Americana é divergente em relação à placa com que faz limite, a placa Aricana (no fundo do Atlântico), portanto, não existe o movimento de uma placa sobre a outra deslocando a água acima, gerando tsunamis.

Meteoros não estão nos planos da Terra no momento. Porém, há alguns anos, foi formulada uma hipótese sobre uma possível erupção do Vulcão Cumbre Vieja, na ilha de La Palma, uma das ilhas Canárias. O lado oeste do vulcão poderia colapsar e um grande volume de terra cairia no mar. Isso deslocaria um enorme volume de água no Atlântico e uma megatsunami seria formada. Ela não seria tão forte como nas regiões mais próximas, mas no Brasil as ondas chegariam com alguns metros de altura e causariam danos a grande parte do litoral, principalmente o nordestino.

Wilson Hebert – Assuntos gerais

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