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Watchmen - O Filme

Por Efraim Fernandes

Watchmen é uma das histórias em quadrinhos nada convencionais e muito conceituada do criador Allan Moore e com a ilustração de Dave Gibbons. Para quem acha que quadrinhos é somente coisa de criança então pode ir tirando o cavalinho da chuva. A obra do cultuadíssimo, contudo ranzinza e barbudo Moore, adaptadada nas telonas por Zack Snyder (“o visionário diretor de 300”) e roteirizada pela dupla Alex Tse e David Hayter, fala de um 1985 alternativo a qual super-heróis eram comuns na sociedade e prestam serviços ao governo norte-americano. Mas com a Lei Keene, mascarados são proibídos de transitarem pelas ruas e seus trabalhos patrióticos são suspensos. Ok, Ok, visão bem American Way of Life, mas mesmo assim a obra merece a atenção. Muitos achavam impossível o trabalho de fazer Watchmen, já que muitos o consideram como uma das maiores obras literárias ja escritas (mesmo que sendo quadrinhos). Mas cá o filme está.

Infelizmente nunca tive a oportunidade de ler o gibi para assim compará-la com o filme, mas de uma maneira genérica a obra original sempre terá maior riqueza de detalhes, mas mesmo assim para quem nunca leu Watchmen pode ver o filme e ficar maravilhado com o show de efeitos visuais.
A introdução do filme é instigante. O vigilante Comediante (Jeffrey Dean Morgan, o John Winchester da série Supernatural) é um ex-combatente, já velho e em casa zapeando os canais, assistindo a enfervescência Nixoniana (perdão ao neologismo) e lá ele refletindo sobre os trabalhinhos sujos postos por debaixo do tapete em nome da democracia do Tio Sam. Por minutos durante a bela introdução até a execução do Comediante por um assassino contratado, ouvimos a clássica Unforgettable de Nat King Cole, arreemessado da janela do alto andar em que vive.
Para a perícia tudo leva a crer que foi apenas um roubo devido aos pertences revirados. Mas para o engenhoso mascarado Rorschach (Jackie Earle Halley) trata-se de uma perseguição aos aposentados Watchmen. A pergunta é quem está por detrás disso. Não se engane, o filme não é de fácil entendimento por uma infinidade de riqueza de acontecimentos e tão pouco segue uma linha contínua de fatos que nos resulta numa resolução prontinha.


Durante a investigação do irredutível e carniceiro mascarado, que nos brinda com um certo clima e bom tom de filmes noir de detetive lembrando o estilo anos 1940, que há vai-e-vem temporal. O artíficio serve de apresentação dos personagens. Uma das introduções em forma de lembrança é a de Jon Osterman/Dr. Manhattan (Billy Crudup de Quase Famosos).

O visual do ator ao encarnar o ser de energia Dr. Manhattan é de cair o queixo. A caracterização está perfeita se olharmos as imagens dos quadrinhos. Igualmente interessante o seu visual e habilidades sobre-humanas, beirando a deidade, são os diálogos (uma quase embate, razão versus emoção) entre ele e a Espectral II (Malin Akerman) a quem mantém-se num relacionamento à deriva.
A perda aos poucos da humanidade do personagem, o questionamento sobre si próprio - como na cena em que ele está no planeta Marte, com um belíssimo visual - , o desapego às coisas mundanas, afastamento emocional, sua exposição à mídia, seu fascínio pela ciência e mistérios do tempo/espaço e a corrida para evitar a destruição do mundo (graças a habilidade em ver o futuro) fazem crescer o desinteresse dela a quem procura refúgio no antigo amigo Dan Dreiberg/Coruja (Patrick Wilson).
Completando o time, a personagem Ozymandias (Matthew Goode), o homem mais inteligente do mundo. Tão grande quanto a genialidade (mesmo que absurda) é a arrogancia e complexo de Deus que porta. Mas toda vez que o via atuar não podia deixar de pensar no quão clichê é sua personagem e a visão de mundo dele sobre a salvação, que ele está destinado a fazer. É um desgarrado do grupo, egocêntrico, tornando-se um mega empresário fazendo produtos recreativos baseados nos vigilantes e pensa até em um filme sobre e ele e os antigos colegas de patrulha.

Por que vale a pena ver o filme? Simples, pela caracterização das décadas. Pela enfervescência cultural como guerra do Vietnã, a pressão da possível guerra nuclear nos anos de Guerra Fria entre as super-potências EUA e União Soviética, as referencias musicais em cenas de ação como All Along The Watchtower de Jimmi Hendrix ou uma canção de Bob Dylan aqui e Janis Joplin ali, citações dos nomes dos jornalistas do Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein, famosos por trazerem à tona o escândalo do caso das escutas telefônicas ilegais a mando de Richard Nixon... São boas referências a história dos Estados Unidos, mas claro com as devidas alterações do universo da obra.

Mas um adendo à direção de Snyder. Seus filmes trazem aquelas caracteristicas cenas de violência e sexo. Neste não ficam de fora também. As cenas protagonizadas pela atriz Ackerman e o ator Wilson são de longe mais ousadas que de Lena Headey e Gerard Butler em 300, bem tórridas na verdade. Faz se pensar se elas simplesmente são realmente necessárias ou se poderiam ser um pouco menos explícitas.
A violência também tem grande peso. Por horas é bem elaborada em cenas de luta. Em outras bem secas e diretas, como dedos quebrados, fraturas expostas, braços serrados, etc. Um pouco de exagero?
Violência sexual tem espaço também na cena dividida entre O Comediante e a Espectral I (Carla Gugino, maravilhosa por sinal). mas quem pode decidir isso com melhor discernimento são os fãs da obra. Eles são quem podem dizer o quanto de fidelização há nas atitudes dos (anti) heróis na fita. Mas é claro todo o cuidado que o diretor teve com os detalhes na produção como vestimentas, maquiagens, a forma como filma, por já ser hoje 'O' Zack Snyder... que faz a fita ter os olhos voltados a si.

Watchmen é um filme que preencherá a visão de muitos pelas cores, texturas, cenas de ação, efeitos visuais, pelos diálogos a cerca da natureza humana, teoria do caos, e claro o velho discurso em salvar milhões (às vezes irritante e clichê, mas nada que comprometa o filme). Mas não se engane já que não é um filme a qual enxerga-se com clareza atos bons e ruins distintamente. Não há somente tons de preto e branco, mas de cinza a ponto de contestar as ações dos ditos 'heróis'.
De fato é até questionável quais deles são mais sádicos ao executar a tarefa e salvar o dia. O meu voto está entre Dr. Manhattan que gosta de explodir coisas e O Comediante que não vive sem matar ou alvejar alguém. Daí a pergunta do teaser... "Who watches The Watchmen?" É um filme para os fãs, mas sendo você ou não um admirador do quadrinho, lhe desejo um bom filme e aguarde a uma possível sequência devido a alterações ao final.
E caso não goste, vá por mais uma vez assistí-lo nas salas de exibição. Se estiver convencido de que não é um bom filme, é porque você tem uma opinião muito bem formada dentro da sua caxola. Ou simplesmente não quer dar o braço a torcer por marcar os cinemas e ser a mais nova tendencia de filmes de super-heróis, como foi mais ou menos com Matrix e O Cavaleiro das Trevas.
Watchmen vale o ingresso. Classificação: Mandou ver!

6 comentários:

Pâm Cristina LF* disse...

pipoca na sala!
rsrsrrs

Saulo disse...

Esse filme deve ser maneiro de mais.

Anônimo disse...

Ótima resenha! Tenho quatro pendências cinematográficas para sanar urgentemente: Slumdog Millionaire, o ganhador disparado do Oscar, Watchmen, que pela resenha parece ser muito bom, Milk, que também foi bem no Oscar, e O Menino da Porteira, afinal, cinema nacional merece sempre ser prestigiado, né?

Anônimo disse...

Não sou muito fã de filmes de ficção mas tem alguns que ate podem chamar minha atenção, principalmte esse de super herois e tals. Se Mandou ver é porque é bom,abraço.
Saudações do Gremista Fanático

Rafael Zito disse...

Neste final de semana, o Blog Jornalismo Esportivo inaugura um novo quadro que se chamará Opinião. O primeiro assunto é o retorno do atacante Ronaldo aos gramados e já deve ser lançado como titular contra o Palmeiras ou se deve entrar apenas durante o confronto.

Vejam as opiniões dos integrantes sobre o tema da semana.

www.esportejornalismo.blogspot.com

Anônimo disse...

Olá! Eu nunca li a história em quadrinhos, mas gostei muito do filme. Posso soar suspeita, mas mais interessante é o aspecto psicológico dos personagens. Fiz, inclusive um post sobre isso em meu blog, tentando entender um pouco da psicologia de cada um. Pra mim o filme funcionou bem, e pro meu namorado também. E olha que ele é fã.

Parabéns pelo blog!

Abraço!