Por Wilson Hebert
Como a vida e como o tempo, que não estaciona e não nos dá um segundo sequer de trégua, tudo tende a atravessar inúmeros momentos com ganho de mais experiência, de mais vivência e até mesmo, de mais idade. Com o Futebol & Variedades não é diferente. Apesar da mudança proporcionada no segundo semestre desse ano – inclusive de nome -, quem nos acompanha desde o nosso início sabe que há bastante história para contar.
Prestes a completar três anos de habitação na blogosfera brasileira, o nosso FV começa, com este post ultra especial, uma série de entrevistas em caráter especialíssimo para comemorar esse momento marcante do blog. E, cá pra nós. Há forma melhor do que começar logo com um ícone da MPB como Chico Buarque de Holanda?
O referido bate-papo que carimba um divisor de águas para este espaço virtual aconteceu no sítio do próprio cantor. É lá que ele reúne seus amigos para todas as quintas-feiras colocar o seu time, o Politheama, em ação e desfrutar de uma pelada completamente amistosa e de confraternidade.
Logo na sua chegada, com este que vos escreve a sua espera, Chico desceu do carro do seu empresário e veio caminhando, trajando uma inconfundível camisa do Fluminense, listrada nas três cores que traduzem tradição, um bermudão verde e chinelos. Um senhor como outro qualquer, querendo apenas se distrair numa tarde de tempo ameno e sol na medida, jogando seu futebol sagrado.
Logo após o cumprimento, gozações com este estudante de jornalismo, para quebrar o clima de tensão natural de quem ainda inicia uma carreira, diante de uma pessoa tão importante para a nossa música. Com ambos já se conhecendo pessoalmente, um pedido: “vamos lá para você me entrevistar, mas não demora muito, porque ainda tenho que me aquecer para o futebol...”
Futebol & Variedades: Chico, você é um artista com inúmeros cd’s lançados, com músicas de qualidade e que até hoje é aclamado como um dos ícones da MPB. De onde vem tanta inspiração para permanecer por tanto tempo na ativa, sempre produzindo um material de alta qualidade?
Chico Buarque: De onde vem a inspiração eu não sei, exatamente. Se soubesse teria feito até mais cd’s, mais músicas... Agora, eu acho que um pouquinho vem do acaso, da própria experiência... Na verdade eu começo a fazer música tocando violão. A inspiração, se é que a gente pode chamar assim, parte de certo trabalho, de certa técnica, quando você conhece bem o instrumento. A partir daí você cria uma estrutura harmônica, depois vem a melodia, na sequência a letra... Mas às vezes, também, não é nada disso. Às vezes você está tomando banho e vem uma idéia de uma canção... Varia, de um trabalho para o outro.
FV: Ao longo do nosso tempo, nós tivemos vários estilos musicais que já passaram por momentos de rejeição, como o próprio samba, o rock, o rap... E hoje nós temos de um lado uma geração rotulada como colorida, apresentando bandas como Cine e Restart. Do outro lado, nós temos o funk vulgarizado. Como você vê o atual cenário da nossa música nesse sentido? E qual sua perspectiva para o futuro próximo da música brasileira?
Chico Buarque: Eu sempre vejo como compositor, que sou. Convivo com os mais diversos estilos de música. E isso é bom. Um sujeito pode rejeitar certo estilo apenas por não gostar e gostar de outro que eu já não gosto.
Então, quanto mais variado é o panorama musical, melhor é para quem compõe também. A gente recebe influência daqui, dali... E por ser músicas que recebam das mais variadas influências, elas passam a ser mais originais do que música com influência única, porque ela não sofre uma pressão, uma influência direta desse ou daquele estilo musical.
Eu quando comecei a fazer música, era maluco por Bossa Nova. E fazia o que? Uma sub-Bossa Nova. Porque era o que eu queria ser, era o que eu idealizava. Eu era um garoto de 15 anos fanático por aquilo. Eu queria ser igual ao Tom Jobim, igual ao Vinicius (de Moraes), igual ao João (Gilberto)... Então a música que eu fazia era um simulacro, e não uma música com formato autoral.
Mais tarde eu fui me libertando disso. Comecei a receber e retomar as influências que eu tinha desde a infância. Desde a música do samba tradicional brasileiro, até as músicas internacionais, como a música americana que tocava muito no rádio daquele tempo, além da música francesa, da música italiana, da música hispânica... Tudo isso entra, é um caldeirão. Fica tudo ali misturado.
FV: E hoje outra realidade que a gente está observando é a relação da internet com o tráfego livre de músicas. Queria saber, em sua opinião, se isso é uma realidade que os músicos precisam se adaptar, ou um mal a ser combatido?
Chico Buarque: Não. Não acho que é um mal que tenha que ser combatido. Acho até que graças a internet a gente tem mais acesso... Quando eu falava da influência que eu recebi na minha infância, naquela época as rádios eram menos segmentadas, então elas tocavam de tudo. E hoje em dia, através da internet, você tem acesso ao que quiser. Se o cara quiser conhecer a música russa, ele pode. E eu acho isso muito bom.
Já o problema de direito autoral, aí já é outra coisa. Quem desrespeita o autor não é a internet, mas sim a má intenção das pessoas.
FV: Agora com relação aos seus últimos trabalhos, há uma composição sua em parceria com o Ivan Lins e que será gravada pelo Diogo Nogueira. Gostaria que você falasse um pouco sobre esse e até mesmo outros trabalhos recentes.
Chico Buarque: Na verdade essa música já foi gravada. Bom, é um samba que o Ivan (Lins) me mandou, eu adorei e fiz a música. E o Diogo (Nogueira) gravou. E é uma beleza. Eu fui cantar com ele outro dia ali no Vivo Rio e o pessoal todo aprovou e tal... Só você que não ouviu ainda, né? (risos).
FV: Pois é. Mas é justamente essa que ouvirei enquanto estiver transcrevendo a sua entrevista... (risos) Agora pra encerrar. Acredita que o Fluminense vai ser campeão brasileiro?
Chico Buarque: Se vai ser?
FV: Você acredita?
Chico Buarque: Bom, tomara que sim, né. Eu sou um torcedor...
Apesar de tudo ter saído como o esperado, a surpresa surgiu no momento em que essa entrevista foi repassada para o computador. Como já imaginado, o som ambiente não contribuiu para a qualidade do áudio. Apesar de ter sido num sítio, havia muitos barulhos de carro e até mesmo de caminhão, pois a localização é próxima a uma avenida de grande movimento.
Mas ficam aqui os agradecimentos ao fotografo do CFZ, José Luiz e ao presidente da FFSSRJ, Lenilson Albuquerque, que puderam tornar esse magnífico momento como possível e realizável. José Luiz ajudou até mais do que levando este que vos escreve até o sítio. Ele colaborou também com a filmagem, possibilitando que produzíssemos um making of da visita do Futebol & Variedades ao sítio de Chico Buarque.
Confira abaixo as melhores imagens da entrevista e da pelada do grande compositor entrevistado, ao som das músicas Até o Fim e Vai Passar, de composição do mesmo.
Como a vida e como o tempo, que não estaciona e não nos dá um segundo sequer de trégua, tudo tende a atravessar inúmeros momentos com ganho de mais experiência, de mais vivência e até mesmo, de mais idade. Com o Futebol & Variedades não é diferente. Apesar da mudança proporcionada no segundo semestre desse ano – inclusive de nome -, quem nos acompanha desde o nosso início sabe que há bastante história para contar.
Prestes a completar três anos de habitação na blogosfera brasileira, o nosso FV começa, com este post ultra especial, uma série de entrevistas em caráter especialíssimo para comemorar esse momento marcante do blog. E, cá pra nós. Há forma melhor do que começar logo com um ícone da MPB como Chico Buarque de Holanda?
O referido bate-papo que carimba um divisor de águas para este espaço virtual aconteceu no sítio do próprio cantor. É lá que ele reúne seus amigos para todas as quintas-feiras colocar o seu time, o Politheama, em ação e desfrutar de uma pelada completamente amistosa e de confraternidade.
Logo na sua chegada, com este que vos escreve a sua espera, Chico desceu do carro do seu empresário e veio caminhando, trajando uma inconfundível camisa do Fluminense, listrada nas três cores que traduzem tradição, um bermudão verde e chinelos. Um senhor como outro qualquer, querendo apenas se distrair numa tarde de tempo ameno e sol na medida, jogando seu futebol sagrado.
Logo após o cumprimento, gozações com este estudante de jornalismo, para quebrar o clima de tensão natural de quem ainda inicia uma carreira, diante de uma pessoa tão importante para a nossa música. Com ambos já se conhecendo pessoalmente, um pedido: “vamos lá para você me entrevistar, mas não demora muito, porque ainda tenho que me aquecer para o futebol...”
Futebol & Variedades: Chico, você é um artista com inúmeros cd’s lançados, com músicas de qualidade e que até hoje é aclamado como um dos ícones da MPB. De onde vem tanta inspiração para permanecer por tanto tempo na ativa, sempre produzindo um material de alta qualidade?
Chico Buarque: De onde vem a inspiração eu não sei, exatamente. Se soubesse teria feito até mais cd’s, mais músicas... Agora, eu acho que um pouquinho vem do acaso, da própria experiência... Na verdade eu começo a fazer música tocando violão. A inspiração, se é que a gente pode chamar assim, parte de certo trabalho, de certa técnica, quando você conhece bem o instrumento. A partir daí você cria uma estrutura harmônica, depois vem a melodia, na sequência a letra... Mas às vezes, também, não é nada disso. Às vezes você está tomando banho e vem uma idéia de uma canção... Varia, de um trabalho para o outro.
FV: Ao longo do nosso tempo, nós tivemos vários estilos musicais que já passaram por momentos de rejeição, como o próprio samba, o rock, o rap... E hoje nós temos de um lado uma geração rotulada como colorida, apresentando bandas como Cine e Restart. Do outro lado, nós temos o funk vulgarizado. Como você vê o atual cenário da nossa música nesse sentido? E qual sua perspectiva para o futuro próximo da música brasileira?
Chico Buarque: Eu sempre vejo como compositor, que sou. Convivo com os mais diversos estilos de música. E isso é bom. Um sujeito pode rejeitar certo estilo apenas por não gostar e gostar de outro que eu já não gosto.
Então, quanto mais variado é o panorama musical, melhor é para quem compõe também. A gente recebe influência daqui, dali... E por ser músicas que recebam das mais variadas influências, elas passam a ser mais originais do que música com influência única, porque ela não sofre uma pressão, uma influência direta desse ou daquele estilo musical.
Eu quando comecei a fazer música, era maluco por Bossa Nova. E fazia o que? Uma sub-Bossa Nova. Porque era o que eu queria ser, era o que eu idealizava. Eu era um garoto de 15 anos fanático por aquilo. Eu queria ser igual ao Tom Jobim, igual ao Vinicius (de Moraes), igual ao João (Gilberto)... Então a música que eu fazia era um simulacro, e não uma música com formato autoral.
Mais tarde eu fui me libertando disso. Comecei a receber e retomar as influências que eu tinha desde a infância. Desde a música do samba tradicional brasileiro, até as músicas internacionais, como a música americana que tocava muito no rádio daquele tempo, além da música francesa, da música italiana, da música hispânica... Tudo isso entra, é um caldeirão. Fica tudo ali misturado.
FV: E hoje outra realidade que a gente está observando é a relação da internet com o tráfego livre de músicas. Queria saber, em sua opinião, se isso é uma realidade que os músicos precisam se adaptar, ou um mal a ser combatido?
Chico Buarque: Não. Não acho que é um mal que tenha que ser combatido. Acho até que graças a internet a gente tem mais acesso... Quando eu falava da influência que eu recebi na minha infância, naquela época as rádios eram menos segmentadas, então elas tocavam de tudo. E hoje em dia, através da internet, você tem acesso ao que quiser. Se o cara quiser conhecer a música russa, ele pode. E eu acho isso muito bom.
Já o problema de direito autoral, aí já é outra coisa. Quem desrespeita o autor não é a internet, mas sim a má intenção das pessoas.
FV: Agora com relação aos seus últimos trabalhos, há uma composição sua em parceria com o Ivan Lins e que será gravada pelo Diogo Nogueira. Gostaria que você falasse um pouco sobre esse e até mesmo outros trabalhos recentes.
Chico Buarque: Na verdade essa música já foi gravada. Bom, é um samba que o Ivan (Lins) me mandou, eu adorei e fiz a música. E o Diogo (Nogueira) gravou. E é uma beleza. Eu fui cantar com ele outro dia ali no Vivo Rio e o pessoal todo aprovou e tal... Só você que não ouviu ainda, né? (risos).
FV: Pois é. Mas é justamente essa que ouvirei enquanto estiver transcrevendo a sua entrevista... (risos) Agora pra encerrar. Acredita que o Fluminense vai ser campeão brasileiro?
Chico Buarque: Se vai ser?
FV: Você acredita?
Chico Buarque: Bom, tomara que sim, né. Eu sou um torcedor...
Apesar de tudo ter saído como o esperado, a surpresa surgiu no momento em que essa entrevista foi repassada para o computador. Como já imaginado, o som ambiente não contribuiu para a qualidade do áudio. Apesar de ter sido num sítio, havia muitos barulhos de carro e até mesmo de caminhão, pois a localização é próxima a uma avenida de grande movimento.
Mas ficam aqui os agradecimentos ao fotografo do CFZ, José Luiz e ao presidente da FFSSRJ, Lenilson Albuquerque, que puderam tornar esse magnífico momento como possível e realizável. José Luiz ajudou até mais do que levando este que vos escreve até o sítio. Ele colaborou também com a filmagem, possibilitando que produzíssemos um making of da visita do Futebol & Variedades ao sítio de Chico Buarque.
Confira abaixo as melhores imagens da entrevista e da pelada do grande compositor entrevistado, ao som das músicas Até o Fim e Vai Passar, de composição do mesmo.
16 comentários:
Simplismente FODA! Parabéns, Wilson. Continue com essa carreira que estão crescendo profissionalmente e pessoalmente!
Abração,
Luís
porforadogramado.blogspot.com
Isso ai Chico, estou com vc!! Fluzão campeão do Brasileirão de 2010!!! =D
WH, fico feliz demaaaaaaaaaais por vc, vc sabe disso!! Parabéns mesmo cara!!!
E fala pro CB9 que ele joga fácil!!
hahahaha
abração mano!
Porra o cara que eu ja comi cachorro quente na pracinha da Cetel entrevistando o idolo dos meus pais... cacete Wilson, tu arrebentou agora!
Sinta-se aplaudido por mim. Parabens mesmo!
Chico eh o cara!
Parabéns, Wilson! Muito legal. Mesmo. Abração!
Não tenho muita coisa pra dizer a não ser parabenizar, né?
Fez uma ótima entrevista, pena que muito pequena, mas está justificado né, ele tava com pressa para se aquecer.
(kkkk)
Mas ficou demais...
Parabéns ao blog pelos três anos, estou esperando as outras entrevistas, certamente serão tão interessante quanto essa.
Grande Chico!
Abraço WH.
SEN-SA-CIO-NAL!
Só quero saber o seguinte: como conseguiu essa proeza?
Agredeço a todos pelos comentários de apoio e aprovação quanto a entrevista.
Chico Buarque é um cara super simpático e solícito. Foi uma experiência inesquecível.
Massi,
Como disse no post, quem conseguiu essa proeza pra mim foi o presidente da FFSSRJ, Lenilson Albuquerque e o fotografo do CFZ, José Luiz, que me levou ao sítio do Chico.
Um abraço a todos!
Olá,
parabéns! Gostei muito da entrevista, mas será que não daria para postar o vídeo com o áudio original? Mesmo com os problemas que você mencionou, acho que seria interessante...
Obrigada.
Parabéns pela entrevista, Wilsão!
Zico, Chico Buarque.. quem vai ser o próximo?
Abraço!
Que linda materia! parabens! quando eu for chamado na radio aqui na Italia para falar sobre a musica brasileira darei destaque para a sua entrevista!
Abraço
A gente não chega a certos lugares por acaso, sabe por quê? Quem procura acha, quem almeja conquista, quem acredita vence. Toda escalada é difícil mais nunca impossível. Acredite no seu sonho, continue escalando sem olhar para traz, pois com sua vontade, disposição e coragem para vencer você chega ao topo.
Parabéns Wilson Herbert, se está começando com grandes conquistas isso porque você passa para as pessoas com quem se relaciona muita positividade e confiança.
bateu um bolão com o poeta Chico, se está começando com grandes conquistas isso porque você passa para as pessoas com quem se relaciona muita positividade e confiança.
A propósito, o Chico ainda tem intimidade com a bola pena que os parceiros não dão uma boa assistência. “valeu Chico" você ainda pode jogar de centro avante no Fluminense.
Wilson Saúde, paz e um forte abraço.
Seu colega de profissão,
Alexandre Ferrari.
Que Deus te abençoe, Wilson
Fico muito orgulhoso em ver seu crescimento
Deus vai te levar a lugares que você nem pode imaginar
Parabéns
Rafael Ramos - Estácio Madureira
Grande Wilson Hebert...
Sabe demais amigão!!
Boa sorte para você no futuro, porque qualidade e competencia você tem...
Abraço do amigo Sobis!
Olá W.Hebert, parabéns pela moral de entrevistar o grande Chico Buarque. Muito legal mesmo.
Você mereceu essa honra.
Parabéns.
Que linda materia! parabens!E que Deus bendiga tua profissão.
Hebert Deus Te aBençoe estou feliz por vc sei que vc e vitorioso,vc e prometido por Deus Seu sucesso e garantido por Deus vc conseguiu intrevistar o mito vivo da mpb beijos,Parabens
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