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Sepultura perde identidade em novo disco.


Banda mineira transforma sua música de forma ordinária e busca público jovem


Espero que os leitores do Futebol e Variedades e fãs de metal em geral não fiquem decepcionados com “Kairos”, novo disco da banda mineira Sepultura e que vazou na internet na semana passada. Decepcionados porque se aguardam por um disco que seja uma espécie de redenção da banda pelos seus últimos lançamentos ficarão esperando um pouco mais.

A simplicidade das canções do “Kairos” são tão reveladoras que a impressão que se tem é que estamos escutando uma banda que está começando agora, procurando alguma identidade e sem possibilidades de rótulos, pelo menos aqueles que todos conhecíamos na década de 80.
Definitivamente o Sepultura não é mais uma banda de thrash. Talvez nem queira ser. Algumas canções de Kairos possuem passagens interessantes que lembram o estilo, mas apenas um vento de lembrança do peso e sujeira que caracterizou o som da banda. Nem vou cair no pecado textual de fazer qualquer tipo de comparação com os discos anteriores a esta formação. Aquela banda formada por Iggor, Max, Paulo e Andreas – ao menos por enquanto – não existe mais.

Este é um novo Sepultura. Uma banda que mantem a opção pela velocidade mas prima por riffs muito simples e se tornou uma espécie de Andreas Futebol Clube, pois, não é possível identificar a personalidade dos outros músicos em todas as faixas do disco. Jean Dolabella dá sua contribuição com aquela vontade de manter a tradição de batidas tribais, DNA pela qual o grupo mineiro ficou conhecido no mundo inteiro. Derrick é aquela voz identificável, violenta, rasgante mas que – como alguém já disse – parece pertencer ao hardcore. Hoje 15 anos após a saída de Max é escroto e fora de propósito criticar o bom vocalista por não parecer ter as características iniciais da banda, porém, volto a dizer: este é um outro Sepultura. Há algum tempo.

O mais difícil é achar durante todo o disco alguma canção que realmente fique gravada na mente (e olha que já escutei-o quatro vezes em um espaço de dois dias até “escrevinhar” esta resenha) e que não torne, pelo menos naquela semana a banda como uma qualquer que você está descobrindo. Pois é. O Sepultura com esta proposta caiu no risco de se tornar uma banda que não se diferencia em nada de outra banda de metal moderno.

As faixas parecem variar sobre um mesmo tema, desde as primeiras canções. Spectrum, Kairos, Relentless não apresentam ao fã da banda (ou qualquer outro que queira conhecer o trabalho) uma proposta muito diferente do que o Sepultura já vinha fazendo desde o “Dante XXI” (2006). É possível que o disco também tenha uma proposta conceitual, mas não entendi a inclusão de nenhuma das vinhetas – 2011, 1433, 5772, 4648 – e acredito que o título de cada uma delas gerem muitas perguntas nas coletivas e entrevistas que a banda conceda.

Dialog é uma música muito diferente para o repertório Sepultura de ser. Uma camada de guitarras que assola toda a faixa, mostrando a destreza de Andreas em seu jeito muito singular de fazer seu próprio som. Respeito muito o músico que possui sua própria face, independente das influências. É uma faixa pesada. Fico curioso apenas como essa canção poderá (assim como todas de Kairos) soar ao vivo, já que a banda não tem guitarrista base. As versões terão um “q” punk, uma vez que a base de baixo de Paulo Jr é alta mas fraca.

Em Mask temos uma confusão rasgada e pesada, com flerte com som produzido pelo próprio Cavalera Conspirancy. Este tipo de faixa lembra muito do que saiu posteriormente ao movimento do nu metal, ou seja, faixas com peso e muito grave, mas extremamente objetivas, sem muitas passagens e floreios. A marca deste disco é a simplicidade.

Seethe tem os grunhidos de Derrick mas adequados ao ambiente que eles propõem, mas volto a realçar: não há canções no disco que possuam um riff inesquecível, uma levada singular, uma letra peculiar ou algo diferente do que o Sepultura tenha produzido nos últimos 15 anos.

No One Will Stand é um verdadeiro petardo, que destoa de todo o disco por sua violência e mescla de agudos e médios bem acentuados pela veloz e tribal bateria de Dolabella, para mim, a melhor faixa do disco depois da versão de Firestater (Prodigy) que realmente é uma boa canção e parece ser adorada pelo mundo metal já que já recebeu várias outras versões. No entanto ela re-afirma essa tendência de metal moderno que o Sepultura abraçou e que deve desagradar muitos fãs tradicionais.

Existem bandas que preferem manter suas carreiras sob a coerência de a cada dois anos lançarem o mesmo disco de estreia. Outras, muito em função das mudanças de formação (ou mentalidade) vão mudando a cor do som proposto nos primórdios. Acho que o Sepultura, se não evolui, mostra sua nova face, desgarrando quase que completamente, justamente do estilo que o consagrou no mundo inteiro. Se fará outras pessoas felizes, isso só o Kairos irá dizer.

twitter do autor: @dcostajunior
twitter do blog: @aliterasom

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