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De Volta para o... Passado

Planet Hemp (Marcelo D2) ensaia retorno aos palcos depois de 10 anos de hiato.

Bandas não se contentam com sua própria história e querem mudar o final de um filme que já acabou faz tempo.


Sou definitivamente contra a qualquer tipo de re-encontro, reunião, turnês, de bandas que já encerraram suas atividades. As bandas deveriam pensar melhor quando anunciam o fim dos seus trabalhos.

Uma banda com 15, 20, 30 anos de carreira, ao final de seus dias (com raras exceções), já possui a formação completamente desmantelada do 'início do sonho'. Aqueles que se envolveram com o projeto, muitas vezes, já estão fora do barco faz tempo. Dali outros entrarão, sem bote salva-vidas e, dois discos depois, também já estarão fora. Resultado: na maioria das vezes existe apenas um integrante original.

Sendo assim, aquela banda que começou não é mais a mesma depois de 10, 15 discos. Manter a chama acesa é muito mais complicado ainda. Por que retornar?

Aí existem duas categorias, para mim, sofríveis, sob qualquer ponto de vista:

1) Essa mesma banda desmantelada quer retornar aos palcos.

Se muita gente na época em que a banda terminou não queria mais ver nenhum show dela, por que neste momento terá motivos pra assistí-la? Sem contar, que em boa parte das vezes, o vocalista está em seu pior estado técnico - por assim dizer - pelas dezenas de maus tratos que fez consigo mesmo ou pelo cansaço de sua biografia entregue aos hotéis, turnês longas, bebidas, cigarros e outros entorpecentes. Procurem saber quantas pessoas estiveram no show da banda The Doors no Canecão no Rio de Janeiro. Nesta época por motivos óbvios quem saiu em turnê com a banda foi o vocalista Ian Astbury (The Cult). Veja bem, não citei como exemplo uma banda de meia tigela de um single. Estou falando do The Doors... Alguém aí acha que a mini-turnê que os Mutantes fizeram com Zélia Duncan nos vocais foi vitoriosa? Teve mídia no momento e depois foi se desintegrando sem aferir qualquer tipo de saudade.

2) A formação original anuncia uma nova turnê seguida de um novo disco.

Vamos combinar que o cataclisma desta reunião só tem como foco a comparação do presente com o passado. "No disco xxxxxxxxxxxxxx fulano cantava pra kraxxxxxxx", "O disco novo nem se compara com o disco que tinha o vocalista sicrano nos vocais, este sim, é um discaço". Raramente há aspectos positivos numa retomada de carreira e pior, raramente esta retomada dura mais que dois anos...

Óbvio, existe o contra-ponto. Uma geração é apresentada a um artista/banda que não conheceu nos palcos. Pode existir uma nova paixonite em torno da Fênix. Ok. Mas em um planeta onde o sucesso é uma imensa montanha-russa - especialmente para aqueles que somem e aparecem - porque arriscar macular uma história que já foi escrita com alguma dignidade? Por dinheiro? Muitos deles estão confortáveis em suas mansões - fruto de anos de planejamento e organização financeira. A turnê do Faith No More em 2009/2010 foi plena diversão para banda e de maneira acertada não pensaram em retornar aos estúdios porque o lance foi só subir aos palcos e curtir. Meu texto não se refere a alguns raros casos de celebração. Sem contar que Mike Patton continua impecável.

Quero fazer uma comparação artística que considero pertinente: já repararam a quantidade de remakes e versões que invadiram as telas de Hollywood? Não se parece um pouco com o tema da nossa discussão? E não leva a gente pensar que a ausência de produção relevante (e não quantitativa) permeando a superfície incentiva dinossauros aposentados a levantarem seus traseiros gordos atrás do vil metal? Quão lucrativa foi a turnê do The Police entre 2008/2009, em uma volta aos palcos totalmente improvável mediante os pega-pra-capá entre seus membros? Quão lucrativa seria a turnê de bandas como Diret Straits, Led Zeppellin e Pink Floyd? Seria por paixão?

Sei, é difícil ser acertivo e taxar todos estes artistas como mercenários. É até leviano, mas, uma eterna volta ao passado como álibi de turnês intensas e extensas em busca de uma mágica que já morreu, é só um retrato de um presente que de gracioso só apresenta o que é temporário, em um ciclo vicioso cansativo entre idas e vindas de um carro de rodas furadas.

Daniel Junior - Música
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