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Papo Firme com Ledio Carmona


Eu e o amigo André Rocha, tivemos o prazer de comparecermos até a residência de Ledio Carmona, do canal Sportv, para entrevistá-lo.

Segue abaixo alguns trechos dessa entrevista publicada em dois posts no Futebol & Arte.

Por André Rocha

Pai do Pequeno Bob, o niteroiense Lédio Carmona é jornalista há 23 anos. Esteve nas últimas cinco Copas do Mundo. Trabalhou em grandes jornais, como Jornal do Brasil, O Globo e Diário Lance, foi repórter, editor e colaborador da Revista Placar e chefe de reportagem da TV Globo. Atualmente é comentarista do SporTV e blogueiro do GloboEsporte.com. O atual blog é o segundo de sua trajetória na grande rede, iniciada com o Jogo Aberto, espaço que comandou entre 2005 e Fevereiro de 2009.”

Essa é a descrição que consta no perfil de seu novo blog, que promete ser mais autoral e menos factual e este que escreve tem a honra de ser um de seus colaboradores.

Carreira

Eu entrei na faculdade pensando em ser radialista. Mas na neurose de arrumar estágio, eu fui parar no Jornal do Brasil em 1986. Quando eu cheguei, a equipe já estava toda no México para a Copa. Eu não ganhava nada e comecei separando telex. Eles gostaram de mim e em três meses já cobria o América. E eu dei sorte de ser um período de muita visibilidade do clube, que chegou às semifinais do Brasileiro daquele ano. Eu comecei a assinar matéria, meu pai curtia e eu fui em frente. (...)

O comentarista

Era Março de 2006 e eu, ainda no início, tinha comentado um jogo do Campeonato Francês e me prenderam lá para fazer no “tubo” o jogo do São Paulo pela Libertadores. O Roberto Assaf tinha pedido demissão do canal de uma hora para outra e não tinha ninguém para comentar. Me pediram para ficar e, de início, eu me recusei. Mas acabei fazendo com o Eduardo Moreno, que hoje é um grande amigo, e foi tudo bem. (...)

Blog

Eu estava em uma feijoada e uma amiga da minha mulher me perguntou se eu não queria ter um blog no Globo On Line. Na época eu não tinha prestado atenção em blogs. E aí eu comecei a fazer, mesmo sem remuneração. Era um investimento e um prazer. Só que eu sou meio obsessivo e compulsivo com as minhas coisas. Lá não tinha tantos acessos quanto hoje e eu respondia a todos os comentários, criando uma interação muito grande com o leitor. Com isso ele passou a ser um dos mais acessados pela grande interatividade e também porque eu postava sobre tudo. Nesse período eu comecei a comentar no SporTV recebendo cachê. Até que em 2006 o Globo.com me contratou. E eu continuei com o mesmo pique. (...)

Jornalismo Esportivo

Eu sou muito crítico. Acho que ele não cresceu e às vezes eu me envergonho com o que é veiculado. Novas mídias surgiram, mas a impressão que eu tenho é que o jornalismo esportivo não evoluiu. O jornal que eu fazia em 1991 é o mesmo que eu leio hoje. Eu não me conformo com o fato dos jornais cobrirem clube. Você pode até ir lá, mas tem que levar uma pauta. Não existe mais essa de ver o treino. (...)

Os Jornalistas

Cada um tem seu estilo e eu respeito todos. Eu não gosto de dizer “concorrente”. Não sei se isso é bom, mas não me sinto competindo. Eu não vejo, por exemplo, a ESPN como minha adversária. É uma outra TV na qual tenho muitos amigos trabalhando. Eu gosto do canal e troco e-mails com alguns deles sem problemas. Na Record eu só conheço o meu amigo Maurício Torres. É lógico que não vou chegar em uma cobertura e ficar passando informação, mas não vou tratá-los como inimigos, nem ficar cochichando perto para eles não ouvirem. Eu não tenho o menor constrangimento de repercutir, por exemplo, um “furo” do PVC. Quando ele ganhou um prêmio eu mandei um e-mail. A imprensa não cresce com essa rivalidade. Os jornalistas espanhóis são amigos em sua maioria. Até demais. Essa coisa de “pool” de informação eu acho um pouco exagerado. Mas é melhor do que essa besteira que existe por aqui. Eu gosto do que faço e não me sinto competindo com alguém.

Independência

Se eu tiver que dizer que o melhor jogo do domingo foi um que o SporTV não transmitiu, farei com toda a tranqüilidade. Você não vai me ver comentando sobre a Copa de 2014 por um viés político. É até uma falha minha, mas eu não gosto. Nunca ninguém me disse o que tinha que falar ou escrever. Nem quando eu era chefe de reportagem eu recebi ordem para tratar ou evitar determinado assunto. Se isso existe, acontece lá em cima.

Bairrismo/Clubismo

Se você não vê jogo da Fiorentina, não pode comentar sobre o Felipe Melo da época do Flamengo, há oito anos atrás. Ele agora é outro cara, tem outra cabeça, está mais maduro. A imprensa, em geral, acha que só existe futebol no Brasil. A imprensa é extremamente bairrista. O bairrismo é nojento demais, uma das maiores chagas do jornalismo. Eu tenho horror a expressões como “imprensa do eixo”, “eixo do mal”, etc. O clubismo você até entende, pois envolve paixão. E os mais bairristas são os cariocas, tanto imprensa quanto o próprio torcedor. Se passa um jogo de Libertadores sem um time daqui o carioca não assiste. E o que eu tento fazer é abrir um pouco o leque colocando Gre-nal, Campeonato Mineiro, Sport...A imprensa brasileira é muito viciada e a do Rio é a mais viciada. O que eu tento fazer é um serviço jornalístico.

Vida Pessoal

Fica bastante prejudicada pela falta de tempo, por causa da TV. Eu gosto muito de cinema e assistir às séries. E BBB, que é o meu lado popular (risos). A vantagem dessa correria é que eu fico muito em casa. Vou lá na SporTV, faço o que tenho que fazer e volto. Nas férias normalmente eu tiro dez dias e depois vinte. De 2004 a 07 eu não tive férias porque eu era freelancer, então tirava só dez dias, viajava e voltava. Em Junho de 2008, na época da final da Libertadores, eu tirei dez dias, mas não me desliguei completamente. Viajei com laptop, assisti à final. Não valeu muito. Agora, depois da final do Argentino, eu viajei para Petrópolis e Búzios e fiquei mais alheio. Eu levei o laptop, mas quase não usei. Mas às vezes entrava no blog para ver como estavam as coisas. Mas o ideal é ficar fora, até pela minha família. Por isso a melhor época é a do recesso do futebol, no final de Dezembro, início de Janeiro. (...)

Esses trechos acima, correspondem a primeira postagem da entrevista, publicada no Futebol & Arte. Clique aqui para conferir na íntegra.


(Eu e Ledio Carmona)


Na segunda parte da entrevista para o Futebol & Arte, Lédio fala sobre futebol. O jornalista discorre sobre suas observações, lembranças e previsões para o futuro do esporte.

Libertadores

Acho que os times brasileiros têm boas chances. Até porque o Boca esse ano não está muito legal. Pode até chegar mas acho que o Dátolo vai fazer muita falta, o Riquelme não está tão bem...E os brasileiros estão melhores do que os argentinos. Eu ainda não vi um time revelação, mas isso não quer dizer muita coisa porque a LDU no ano passado não me empolgou. Foi passando sempre com dificuldade e no final ganhou. Eu já comentei umas dez partidas da Libertadores deste ano. É muita garra, competição. Mas futebol para ser campeão, daqueles de encantar, ainda não vi nenhum.

Copa 2010

Eu não sei se é uma impressão minha, mas eu vejo as pessoas cada vez mais distantes do espírito de Copa do Mundo. Eu não vejo ninguém comentando sobre os amistosos. Mas eu até falei isso no “Redação” outro dia: hoje os favoritos seriam Brasil, Argentina e Espanha. Embora isso não queira dizer muita coisa agora, a Itália não está legal, assim como a Alemanha. A França é um lixo, com aquele técnico bobão, que vive brigando com os jogadores. Os africanos também não empolgam...Eu gostaria que uma seleção como Holanda e República Tcheca jogasse um futebol de empolgar. Mas chega na hora e eles acabam fracassando. (...)

Copa no Brasil

Eu morro de medo do Brasil pagar um mico histórico. Os estádios hoje não têm a mínima condição de receber as partidas. Como jornalista, eu acho muito legal acontecer aqui no Brasil. Vi três na Europa, uma na Ásia, outra na América do Norte. Não sei se eu vou para a África do Sul, mas seria legal ver uma Copa em casa. Só não sei se vai dar certo. O meu medo é ter um jogo entre República Tcheca e Bulgária no Maracanã e não ir ninguém daqui e os organizadores serem obrigados a colocar alunos do ensino público lá para encher o estádio. Sinceramente, eu não vejo paixão do brasileiro pelo futebol para ver todos os jogos da Copa. (...)

Melhores Jogos

Em Copas, visto do estádio, foi Brasil x Holanda em Marseille na Copa de 1998. De clube, a conquista da Libertadores de 1998 pelo Vasco foi bem marcante. Mas o melhor e mais emocionante foi o Fla-Flu de 1995, do gol de barriga do Renato Gaúcho. Eu fiz a crônica para “O Globo” e abrir o jornal no dia seguinte e saber que todo mundo vai ler o que você escreveu é sensacional. (...)

Times

Como torcedor, um que ficou na minha mente foi o Vasco campeão estadual em 1977. Foi o primeiro grande time do Vasco que eu vi. Era Mazarópi; Orlando, Abel, Geraldo e Marco Antônio; Zé Mario, Zanata e Dirceu; Wilsinho, Roberto e Paulinho. O técnico era o Orlando Fantoni. Inclusive é o tema da minha apresentação do livro com o Gustavo Poli (“Almanaque do Futebol”, Editora Casa da Palavra). É um agradecimento a esse time. Do Vasco também teve o de 1987, campeão da Taça Guanabara, com Acácio; Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Dunga, Geovani e Tita; Mauricinho, Roberto Dinamite e Romário. Foi um time que jogou pouco tempo junto, mas era um timaço. (...)

Dunga

Eu acho que o Dunga vai à Copa, ele faz um bom trabalho. E ele não vai sair perdendo para todo mundo na maratona deste ano, com jogos muito difíceis. A pior fase já passou, que foi aquela derrota para o Paraguai e os empates aqui no Brasil. As pessoas, incluindo aí torcedores e boa parte dos jornalistas, esperam um futebol plástico da seleção que não existe mais. O Brasil está inserido dentro de um futebol competitivo com alguns rompantes artísticos, como no gol do Robinho contra a Itália em Londres. Mas querem que seja uma seleção artística com rompantes de espírito competitivo. Essa inversão, no fundo, ainda não foi assimilada pelo brasileiro em geral. Era assim com o Parreira, foi com o Felipão e vai ser assim com o Dunga. (...)

Luiz Felipe Scolari

Eu não vejo muita vontade nele de voltar a trabalhar para a CBF. Ele quer morar e trabalhar na Europa. Se um dia o Felipão voltar para o Brasil vai ser para treinar Palmeiras ou Grêmio. A verdade é que ele não concorda com a CBF. Ele assumiu em 2001 porque ele não conhecia por dentro. Ele já está rico, famoso e ganhou um Mundial. Duvido que ele queira passar pelo que acontece com o Parreira, que vê as pessoas lembrarem mais do título que ele perdeu do que o que venceu.

O ídolo Roberto Dinamite

Em 1986, eu cobria o América, mas o Tadeu Aguiar, que hoje é o editor-adjunto de “O Globo”, foi fazer uma matéria especial dos quinze anos do primeiro gol do Roberto no Vasco. E eu fui lá para ajudar. E, para o meu espanto, o Roberto não sabia nada sobre a própria carreira. Ele não lembrava e eu é que respondia. Na hora eu fiquei chateado. “Pô, o cara é meu ídolo!” O meu filho se chama Roberto por causa dele. Mas era uma proximidade. Ali na sala de imprensa do Vasco a gente ficou uma hora e meia com o Dinamite. (...)

O Futuro

O mundo está mudando e o jogador e a sua imagem seguem essa mudança. Eu ainda peguei seleção em 97, 98, em que a gente ficava no saguão do hotel conversando. Me lembro na África do Sul de ficar eu, Cléber Machado, Dunga e Romário em uma mesa conversando, comendo amendoim, tomando refrigerante durante três horas. Hoje ninguém desce para conversar. Estão todos muito blindados. E a relação com o torcedor é a mesma. E com o meu filho vai ser pior ainda, mas não é culpa de ninguém. Eu não sou de ficar com saudosismo. (...)

Clique aqui e leia a íntegra do segundo post dessa entrevista.

5 comentários:

Anônimo disse...

O Carmona tem razão: o jornalismo esportivo não evolui há séculos. E isso é culpa do comodismo, de apostar no que dá mais ibope, mais grana. A preocupação com a qualidade foi pro ralo. Abraço, PP

Anônimo disse...

Wilson, muito boa a entrevista. O cara apesar de vascaíno é muito bom.

Valeu tb pela dica acima, estava doido pra tirar aquelas letrinhas e não sabia como.

Forte abraço

snoopy em p/b disse...

show de bola, parabéns!

Douglas Nunes disse...

show de bola a entrevista cara
abraçao

Mateus Papini disse...

Bela entrevista, so nao concordo quando ele cita que os jogos de outras seleções nao iram encher o estádio!