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Música: ítem de consumo de compra coletiva


Por
Daniel Junior

A banda Autoramas é uma das que pede ajuda aos fãs para lançar seu novo disco. A moda já pegou.

Ok, ok. Os sites de compra coletiva tornaram-se o must dos últimos tempos. Para os aficcionados em consumo, parece ser o manjar dos deuses. Ok, ok, ajudar a criar o clip da sua banda preferida virou onda pros internéticos. Afinal de contas, quando “deuses do Olimpo” desceriam de seus pedestais para pedir ajuda aos humanos?. Ok, ok, fãs sugerem músicas para o set-list dos seus artistas. Ótima pedida para turnês mundiais, onde uma banda, por exemplo, pode tocar vários sets ao redor do mundo, de acordo com a sua audiência… Mas que papo é esse de bancar produção de CD e dvd de banda?

Olha, na boa, espero que neguinho (e branquinho) não entendam mal o que eu vou falar, mas se o artista não tem dinheiro pra lançar sua bolacha, porque ele vai lançar? Daí, ele vai viver da turnê deste disco, quiça gravará um DVDzinho (caso não peça ajuda) e os fãs irão sustentar?

Veja bem, sabemos que:

1) Os downloads criaram um outro universo dentro do mercado fonográfico e porque não dizer no mundo do entretenimento. Até porque, todo mundo é afetado, não só pelos servidores de “baixamento” como pelos vendedores piratas que vão desde jogos para Playstation como para aquele filmezinho educativo que a molecada onanista gosta. Portanto, a crise está aí pelo menos há uns 10 anos…

2) Que por conta disso as gravadoras, principais mantenedoras do circo, quebraram e servem apenas como alicerce (e olhe lá) de divulgação do seu cast em contratos e conluios em programas de tv e nas emissoras de rádio. Porque afinal de contas, dinheiro de venda de disco não entra mesmo…

3) Que o país não tá naquela água de tempos atrás em que, na adolescência, a merreca da mesada servia para comprar um disco por mês! Quem já passou dos 30 sabe muito bem que só pôde comprar seu Nevermind da vida porque papai deu uma grana. Fora isso, era difícil conseguir títulos oficiais ou mesmo piratas. Muitas deles nas mãos de mercantilistas/colecionadores que se alimentam da paixão de alguns sortudos e/ou otários para valorizarem suas peças. Depois vem a própria banda e lança aquela “raridade” como oficial e aí, você que pagou 100 doletas naquele artigo, acaba achando a 19,90 na Americanas…

Agora, tudo isso à parte, na minha cabeça não se justifica que o artista use o seu canal de comunicação – logo agora que o poder aquisitivo do povo, inclusive o dele, melhorou – para pedir para bancar seu disco. Você já pensou se vira moda? O cineasta não tem pepeta pra lançar o Tropa de Elite III, lança uma campanha pública pra você bancar o filme. A indústria farmacêutica – quebrada pela venda de genéricos e pelo fortalecimento das outras concorrentes escalão B – pede aos seus consumidores que ajudem financeiramente na pesquisa de plantas, que, podem em larga escala – e dependendo das descobertas – trazer benefícios para… seus cofres!

Quem tem que incentivar (e injetar dinheiro) a cultura e o combate à pirataria para abastecer o mercado fonográfico de investimento é o Governo Federal e o Ministério da Educação e Cultura. O artista (seja qual for o ramo) que procure os meios legais e/ou a iniciativa privada (que possui IMENSOS incentivos fiscais para tanto), assim como fazem os diretores de teatro, os artistas de artes plásticas (tão renegados neste país) e tantos outros que, se dependerem de seus admiradores, ficarão no buraco!

Lobão já provou por A + B, através da sua curta mas profícua experiência na produção de material inédito e nos lançamentos de artistas do underground, que é possível sim fazer material de qualidade com custos mais interessantes e, havendo valores mais justos, o consumidor irá utilizar o seu dinheiro suado para comprar material autêntico e de produção exemplar. Não os lixos que encontramos nas lojas de departamento, com suas capas que parecem cópias, com todo o tipo de material de baixíssimo.

E sem essa de recompensa… Mexer com a vaidade do fã foi o “pulo do gato”. Ter nome no CD, ir ao show ou fazer parceria (não se sabe em que termos) junto com seu ídolo, nada mais é do que um “me engana que eu gosto” que o artista não deveria se rebaixar tanto. Volto a dizer: não tem dinheiro pra lançar, não lança. Quantos artistas ficam anos fazendo seus discos – por centenas de motivos – e que, paulatinamente, após muitos esforços, lançam suas bolachas, fazem os cenários e mapas mais “salgados” e acabam colhendo os louros do árduo trabalho (e da paciência) que tiveram…?

Arte não é ítem de compra coletiva como comprar o sanduíche mais barato do seu bairro ou uma promoção de calça jeans. O lance é outro. Além de ser trabalho de uma pá de gente, demanda além de talento, organização. Se você não organizar sua vida (e seus gastos) não terá dinheiro para bancar sua casa, seus estudos, diversão, roupas e sustento. Será que se você estiver precisando de dinheiro algum artista que te conheça irá te ajudar? Pode parecer um exemplo absurdo mas é isto mesmo.

Agora o contraponto:

Acho bacana quando um grupo de pessoas se mobiliza para trazer uma banda para o país. Sem ser intolerante, algumas atitudes são simbólicas e merecem meu respeito e meu apreço, por se tratar de atitude de respeito e amor…

Agora, quando isso se torna uma prática comum, banalizando qualquer tipo de ineditismo e passando a ser uma espécie de investimento de BAIXÍSSIMO retorno e pior, sem qualquer reflexão por parte da sociedade que consome este tipo de informação, sinceramente, acho absolutamente preocupante e bem a cara de um povo que se acostumou a se mobilizar quando o assunto é “ego” (“vou ter meu nome no cd da minha banda preferida, oba”) e esquece quem segura nas rédeas de um projeto político no país, votando em um palhaço, um estilista e um ex-BBB pra deputado federal.

P.S: essa onda começou lá fora quando artistas fora da cena começaram a pedirem seus fãs que bancassem seus voltas aos estúdios. Como brasileiro é bastante original…

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