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A boa época de Paulo Ricardo

Por Daniel Junior

Não, Paulo Ricardo não desistiu precocemente do sua nova volta ao RPM (Ricardo Paulo Management). Este disco é de 1996 e foi o terceiro projeto solo do moço após sua estrondosa banda. PR sempre foi multifacetado antes da existência da palavra multifacetado. Percebia-se que o rock não seria a única fonte da qual o cantor iria beber. O que ninguém esperava em um futuro próximo do fim da década de 90, ele passaria a ser um cantor que flutuaria entre o romantismo tipo Fábio Jr e o pop tipo Chris Duran. Sem qualquer exagero.

De fato, o músico não poderia continuar chorando as pitangas porque a banda que vendeu milhões de discos havia se despedaçado após muitas cheiradas, viagens e gastos exorbitantes para uma banda nova em um país cuja a economia vivia em uma gangorra na qual o assento estava quase sempre pra baixo.

Rock Popular Brasileiro traz arranjos muito interessantes para alguns clássicos do rock nacional. O disco abre com Beth Balanço (Frejat/Cazuza), canção homônima do filme de Lael Barbosa, de 1984 e que traz o próprio Cazuza fazendo uma ponta como Tininho. Era fácil ligar o rádio e ouvir o Barão com seu rock com sotaque brasileiríssimo, sem que isso fosse panfletário. Aliás, na base do esforço (no caso do Barão amenizado por conta dos "contatos" de Agenor) o rock brasileiro sempre foi nacional - no bom sentido da palavra - com a sua tradução para o cotidiano.

Em seguida temos Tempo Perdido (Renato Russo) do clássico Dois (1986). A banda de Brasília estava crescendo em criatividade, após um aclamado disco de estreia. O arranjo dançante tira um pouco da melancolia da canção original, mas PR, que como intérprete é limitado, até consegue dar um charme à canção.

Baby (Caetano Veloso) famosa na voz de Gal Costa, talvez seja uma homenagem a uma das referências do cantor. Porque não era bem uma canção de rock, embora seu compositor na juventude tenha sido conhecido - entre tantos predicados - por sua postura rebelde e composições de letras ambiguas e ácidas, ou seja, o profile muito rock. Mas não era o caso para esta canção. Enfim...

Noite e Dia (Lobão/Júlio Barroso) é daquelas canções que nascem clássicas. Aliás como muitas da autoria de Lobão. O mais marcante neste projeto que reverencia grandes compositores do rock brasileiro é que PR não comete nenhuma heresia e sua limitada voz está encaixada em todas as canções.

Me Liga (Hebert Vianna) faz parte de um repertório romântico que os Paralamas cultivavam principalmente no início da carreira. A banda quase minimalista - guitarra, baixo e bateria - conseguia construir canções muito sentimentais com ÓTIMAS letras e não soava cru. PR acaba dando um clima funny a uma canção meio down. E não ficou ruim. Aliás, a banda com a qual ele contou, entre inúmeras participações fez um trabalho belíssimo.

Marvin (Nando Reis/Sérgio Brito) que é uma versão de uma música pouco conhecida de Ronald Dumbar e N. Johnson, é uma das canções mais melancólicas do RPB (Rock Popular Brasileiro). Aliás, é um pouco secular esta tradição dos compositores nacionais tratarem suas canções como crônicas ou estórias. A dupla Nando/Britto que dizem as más linguas nunca se toparam muito, é realmente um grande clássico não só do rock mas da MPB.

Falar de Lulu Santos é uma completa redundância. A verve do músico carioca é impressionante e Quando Um Certo Alguém (Ronaldo Bastos/Lulu Santos) é confessional e otimamente pincelada por PR. Talvez o fator que faça mais falta a atual geração de RPB é total falta de competência de escrever letras interessantes. Sejam diretas e simples, sejam rebuscadas e trabalhadas. A pobreza literária é a grande marca dos atuais compositores do rock brasileiro atual.

É engraçado ver Evandro Mesquita em um sitcom brasileiro com seu apurado talento como ator, especialmente quando caracteriza um carioca bonachão, malandro contemporâneo, com pinta de conquistador dos anos 60. Este mesmo cara é o co-autor com Ricardo Barretos de uma excelente faixa chamada A Dois Passos do Paraíso. A Blitz - para quem não conheceu a banda -era uma espécie de banda bem humorada que misturava performances teatrais com músicas de letras no mínimo curiosas. Essa é uma canção "séria" do repertório da Blitz e entraria definitivamente na lista de melhores canções produzidas nos anos 80. PR e sua banda conseguem manter o clima meio de despedida da música.

Bem, o Rei Roberto Carlos não poderia ficar de fora. Nada Vai Me Convencer (Paulo César Barros) era uma daquelas canções do Roberto que emulavam um hino de libertação de algum relacionamento. Com o passar do tempo, o velho Rei começou a amolecer o discurso. Não que não tenha feito clássicos, mas passou a ser mais manso e ingênuo em suas letras. Aqui uma pérola resgatada por PR. Ponto mais uma vez para o ex-atual-vocalista do RPM.

Agora Só Falta Você (Rita Lee/Luiz Sérgio) já foi tantas vezes regravada que nenhum comentário meu poderia acrescentar alguma coisa. A única observação a ser feita é que ele fez a versão mais pesada até então do disco. O arranjo amarradinho. Não é previsível mas poderia ficar de fora facilmente... :(

A Cruz e A Espada (Paulo Ricardo/Luiz Schiavon) foi a canção que teve maior repercussão do disco e foi o single de lançamento da época. A clássica canção do RPM ganhou uma segunda voz interpretada por Renato Russo. Ainda sem a voz mofada do último ano de vida (1997), Renato corrobora com seu amigo PR e torna a versão deles dois mais conhecida do que a própria canção original.

Lumiar (Beto Guedes/Ronaldo Bastos) é outra canção que já ganhou versões de vários cantores de MPB e até novos arranjos de Beto Guedes é outra faixa que poderia estar fora da compilação. É uma bela música mas não tem afinidade nenhuma com o rock brasileiro.

Já Ouro de Tolo (Raul Seixas) é uma OBRA DE ARTE de um cantor e compositor que eu respeito bastante, embora não tenha uma grande admiração, mas sei e compreendo a importância absurda de RS para a MPB. Justamente porque foi um dos que emprestaram ao rock nacional um jeito brasileiro de cantar e fazer música. Raul nunca usou o rock como limitador; com Paulo Coelho compôs clássicos reverenciados por várias gerações. Um excelente acerto da parte de PR que teve a sensibilidade de escolher uma letra difícil de ser "cantada" em um arranjo que satisfez o quase rap.

O disco encerra como começou; Ideologia é outra canção da dupla que iniciou o disco - Cazuza e Frejat - e aqui aparece em uma versão ao vivo. Esta fora uma versão muito reproduzida à época uma vez que a morte de Cazuza ainda estava muito fresca na memória de todos os brasileiros.

1.Bete balanço
2.Tempo perdido
3.Baby
4.Noie e dia
5.Me liga
6.Marvin (Patches)
7.Um certo alguém
8.A dois passos do paraíso
9.Nada vai me acontecer
10.Agora só falta você
11.A Cruz e a espada
12.Lumiar
13.Ouro de tolo
14.Ideologia

Nota: 8,5

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